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  • Terminologia Para A Descrição De Tomografia Computadorizada Do Tórax

    Fonte: Jasinovodolinsky, D. et alii. Terminologia Para A Descrição De Tomografia Computadorizada Do Tórax. Radiol Bras vol.35 no.2 São Paulo Mar. 2002.

    INTRODUÇÃO

    Uma das grandes preocupações da ciência sempre foi estabelecer uma linguagem universal, a fim de facilitar a comunicação entre pessoas de diferentes nacionalidades e culturas. Isto permite, entre outras coisas, a comparação de resultados de trabalhos científicos e a troca de informações sobre um determinado assunto.

    No Brasil, de proporções continentais, com uma cultura rica e variada, há a necessidade de se estabelecer um consenso de terminologia para se descrever os exames de imagem.

    Especialmente em relação aos exames de imagem, isto não é tarefa fácil, pois na formação do radiologista em geral não há a preocupação de saber como se deve descrever uma lesão pulmonar. Esta situação se deve a vários fatores, como existir uma literatura muito variada, aprender “ouvindo” os radiologistas mais experientes, existir vícios de linguagem, que foram passados de geração em geração, as próprias características regionais, que influenciam no linguajar médico, e o uso indiscriminado de termos em inglês, sem uma real preocupação com a sua adequada tradução.

    Além disso, ao se fazer um relatório, este passa a ser um documento, que será lido, no mínimo, por outro médico, que muitas vezes não entende o que está escrito, acarretando conseqüências ruins para todos os envolvidos neste processo, especialmente para a figura central do processo, o paciente.

    Foi com essa preocupação que o Grupo de Tórax do Colégio Brasileiro de Radiologia, em conjunto com a Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia, resolveram fazer uma primeira proposta para um consenso brasileiro de terminologia em tórax, com base em consensos internacionais já existentes. Nesta primeira fase, é abordada a terminologia usada para os exames de tomografia computadorizada de alta resolução do tórax.

    É muito importante que todos participem com sugestões e críticas, para que num futuro próximo possamos estabelecer um consenso que seja referendado por todas as sociedades representantes afins, as escolas médicas, os congressos, as universidades, as residências médicas e seja utilizado pela maioria dos radiologistas, para que se use uma linguagem em comum, compreensível tanto para o radiologista como para o pneumologista.

    A partir desta publicação, durante um prazo de dois meses aguardaremos idéias e sugestões dos colegas radiologistas e pneumologistas de todo o País, para posteriormente divulgarmos o Consenso Brasileiro em TCAR do Tórax, que, esperamos, passe a ser usado no Brasil. As sugestões devem ser enviadas para o Dr. Arthur Soares Souza Jr (e-mail: asouzajr@terra.com.br).

     

    GLOSSÁRIO EM TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA DE ALTA RESOLUÇÃO DO TÓRAX

    Aprisionamento (seqüestro) aéreo. S. m. 1. (Fisiopatol.) Retenção de excesso de gás (“ar”) em todo ou em parte do pulmão, especialmente durante a expiração, tanto como resultado de obstrução parcial ou completa de vias aéreas, como também resultante de anormalidades focais da complacência pulmonar. Apesar de não ser de uso habitual, o termo “aprisionamento gasoso” é mais preciso. 2. (TC) Diminuição da atenuação do parênquima pulmonar, evidenciada especialmente por uma atenuação menor que o normal durante a expiração. Deve ser diferenciada de diminuição da atenuação por hipoperfusão secundária ao aumento da resistência da artéria pulmonar.

    Banda parenquimatosa. S. f. Opacidade alongada, usualmente com vários milímetros de largura e com cerca de 5 cm de comprimento, freqüentemente estendendo-se até a pleura, a qual pode estar espessada e retraída no local do contato. Em geral corresponde a fibrose focal de causa não específica.

    Bola fúngica. S. f. Coleção lembrando massa e representando enovelado de hifas, usualmente da espécieAspergillus, associado com muco, fibrina e restos celulares, colonizando uma cavidade pulmonar causada por uma doença prévia (ex.: tuberculose). Poderá mover-se com a mudança de posição do paciente. Sin.:micetoma.

    Bolha. S. f. 1. (Patol.) Espaço aéreo dilatado, bem demarcado, que mede 1 cm ou mais de diâmetro e possui paredes que habitualmente não ultrapassam 1 mm de espessura. 2. (TC) Espaço aéreo focal, arredondado, com 1 cm ou mais de diâmetro, demarcado por parede fina, habitualmente múltiplo ou associado com outros sinais de enfisema pulmonar. É o termo preferido para descrever todos os espaços contendo ar no pulmão, com exceção de pneumatocele.

    Broncograma aéreo. S. m. (Radiol.) Imagem radiográfica de brônquio contendo ar, periférico ao hilo e circundado por pulmão desaerado (devido à absorção de ar, substituição de ar ou ambas). Este achado é geralmente reservado como evidência de permeabilidade das vias aéreas mais proximais. Qualquer imagem semelhante a uma faixa que reduz de calibre ou luscência, ramificada no interior de pulmão opacificado, correspondendo ao tamanho e distribuição de um brônquio ou brônquios, presume-se que represente um segmento da árvore brônquica.

    Bronquiectasia. S. f. 1. (Patol.) Aumento irreversível do calibre de brônquio ou brônquios, que freqüentemente apresentam espessamento de suas paredes. Quando moderada, a dilatação é cilíndrica (isto é, a redução progressiva normal do calibre do brônquio está ausente). Quando mais grave, a dilatação torna-se sacular e constrições irregulares podem estar presentes. Quando muito grave, o brônquio pode estar acentuadamente dilatado, especialmente em suas porções distais. 2. (TC) Dilatação dos brônquios, que freqüentemente apresentam espessamento de suas paredes.

    Bronquiectasia de tração. S. f. Dilatação brônquica, geralmente irregular, em associação com opacidades justabrônquicas, que é interpretada como fibrose pulmonar retrátil.

    Bronquiolectasia. S. f. 1. (Patol.) Dilatação de um bronquíolo ou bronquíolos, que freqüentemente apresentam espessamento parietal. 2. (TC) Dilatação bronquiolar. Ver também bronquiolectasia de tração.

    Bronquiolectasia de tração. S. f. Dilatação bronquiolar em associação com opacidade peribronquiolar, que é interpretada como fibrose pulmonar retrátil.

    Cavidade. S. f. 1. (Patol.) Massa no interior do parênquima pulmonar, cuja porção central apresentou necrose de liquefação, a qual foi expelida pela árvore brônquica, deixando espaço com conteúdo aéreo, contendo ou não líquido. 2. (Radiol.) Espaço contendo gás no interior do pulmão, com paredes com espessura acima de 1 mm e geralmente de contornos irregulares.

    Cisto. S. m. 1. (Patol.) Espaço arredondado, circunscrito, cercado por parede epitelial ou fibrosa, cuja espessura pode ser uniforme ou variável e que no pulmão habitualmente contém ar, mas que pode conter material sólido, semi-sólido ou líquido. 2. (Radiol.) Espaço parenquimatoso, arredondado, com paredes bem definidas, usualmente contendo ar, quando está no pulmão, mas sem enfisema associado; comumente utilizado para descrever espaço aéreo aumentado no estágio final de fibrose pulmonar idiopática ou sarcoidose, assim como na histiocitose de células de Langerhans e na linfangioliomiomatose. É o termo preferido para descrever qualquer espaço contendo gás de paredes finas no pulmão, que possua paredes com espessura maior que 1 mm.

    Cistos de faveolamento. S. m. Cistos aéreos, usualmente com diâmetros semelhantes, medindo de 0,3 a 1 cm de diâmetro, vistos na fibrose pulmonar idiopática e em outras doenças pulmonares fibrosantes.

    Consolidação. S. f. 1. (Patol.) É a substituição do ar alveolar por transudato, exsudato ou tecido. 2. (TC) Aumento homogêneo da atenuação do parênquima pulmonar, que obscurece as margens dos vasos e as paredes das vias aéreas. Pode estar presente broncograma aéreo.

    Difuso. Adj. 1. (Patofisiol.) Difusamente distribuído por todo um órgão ou tipo de tecido. 2. (Radiol.) Contínuo e difusamente distribuído (denominam-se as imagens e, por inferência, o estado ou processo que as produz). Sin.: disseminado, generalizado, sistêmico.

    Termo útil e aceitável. No contexto de radiografia de tórax, “difuso” tem conotação de disseminado, anatomicamente contínuo, mas não necessariamente envolvendo todo o pulmão, ou outra estrutura torácica ou tecido; “disseminado” conota disseminação, porém com envolvimento anatomicamente descontínuo; “generalizado” conota envolvimento completo ou quase completo; “sistêmico” conota envolvimento de tecido ou estrutura torácica como parte do processo envolvendo todo o corpo.

    Disseminado. Adj. (Patofisiol.) Disseminado, mas descontinuamente distribuído por um órgão ou tipo de tecido. 2. (Radiol.) Disseminado, mas anatomicamente descontínuo (é dito de imagens e, por inferência, de um estado ou processo que as produz).

    Distorção arquitetural. S. f. Manifestação de doença pulmonar em que os brônquios, vasos pulmonares, fissura ou fissuras ou septos de lóbulos pulmonares secundários estão deslocados anormalmente.

    Enfisema. S. m. 1. (Patol.) Aumento permanente do espaço aéreo distal ao bronquíolo terminal, acompanhado de destruição das paredes alveolares. A ausência de “fibrose óbvia” historicamente tem sido considerada como um critério adicional, mas a validade deste critério recentemente tem sido questionada. 2. (TC) Região focal ou regiões de baixa atenuação, usualmente sem paredes visíveis, resultando de um real ou perceptível aumento de espaço aéreo e destruição das paredes alveolares. Pode estar associado com aprisionamento aéreo.

    Enfisema acinar distal. S. m. 1. (Patol.) Caracterizado por envolvimento predominantemente dos dutos e sacos alveolares, caracteristicamente acomete as regiões pulmonares subpleural, adjacente ao septo interlobular e vasos. 2. (TC) O enfisema é caracterizado por baixa atenuação subpleural ou bolha separada por septo interlobular intacto. Sin.: enfisema parasseptal.

    Enfisema centrolobular. S. m. 1. (Patol.) Caracterizado por septos centrolobulares alveolares destruídos e dilatação dos bronquíolos respiratórios. Freqüentemente ocorre nos campos pulmonares superiores em fumantes de cigarros. 2. (TC) Diminuição da atenuação centrolobular, habitualmente sem paredes visíveis, de distribuição não-uniforme e localizado predominantemente nos campos pulmonares superiores. Sin.: enfisema centro-acinar.

    Enfisema panlobular. S. m. 1. (Patol.) Enfisema que envolve, mais ou menos uniformemente, todas as porções do lóbulo secundário. Ele tende a predominar nos lobos inferiores e essa é a forma de enfisema associada à deficiência hereditária de alfa-1 antitripsina. 2. (TC) Enfisema que tende a mostrar decréscimo bastante uniforme da atenuação parenquimatosa e pobreza vascular. Enfisema panlobular grave pode ser indistinguível do enfisema centrolobular grave, a não ser pela distribuição zonal. Sin.: enfisema panacinar.

    Espaço aéreo. S. f. (Anat./radiol.) Gás contido no parênquima pulmonar, incluindo os ácinos e excluindo o interstício e porções puramente condutoras do pulmão.

    Espessamento do septo interlobular. S. m. Opacidade linear fina que corresponde ao septo interlobular, deve ser distinguida de estruturas centrolobulares. Aumento na espessura do septo interlobular, usualmente causado por edema, infiltração celular ou fibrose. Pode ser lisa, irregular ou nodular.

    Estruturas centrolobulares. S. f. 1. (Anat.) Estruturas tubulares centrais no lóbulo pulmonar secundário (isto é, a artéria e bronquíolo centrolobulares). 2. (TC) A artéria pulmonar e seus ramos imediatos em um lóbulo secundário; estas artérias medem aproximadamente 1 mm e 0,5 a 0,7 mm de diâmetro, respectivamente; na TCAR é possível obter imagens destes vasos. No entanto, o bronquíolo normal que supre o lóbulo secundário tem espessura de parede de aproximadamente 0,15 mm, que está além da resolução da TCAR. Conseqüentemente, vias aéreas normais nos lóbulos pulmonares secundários não são detectadas no exame de TC.

    Faveolamento (favo-de-mel). S. m. 1. (Patol.) Cistos pulmonares de destruição fibrosados, simbolizando perda completa da arquitetura acinar e bronquiolar, representando o estágio final da doença fibrosante pulmonar. 2. (TC) Espaços císticos agrupados, usualmente com diâmetros comparáveis, variando de 0,3 a 1 cm de diâmetro, mas que podem alcançar 2,5 cm, habitualmente em posição subpleural e caracterizados por paredes bem definidas, geralmente espessas. A presença de lesão consolidativa em pulmão enfisematoso pode simular esta condição e representa uma armadilha diagnóstica potencial.

    Fissura. S. f. 1. (Anat.) Dobra interna da pleura visceral, que separa um lobo ou a porção de um lobo de outro.2. (Radiol.) Opacidade linear com 1 mm ou menos de espessura, que corresponde, em posição e extensão, à separação anatômica dos lobos pulmonares ou porções dos lobos. Sin.: cissura.

    Interface. S. f. (Radiol.) O limite comum entre as sombras de duas estruturas justapostas ou tecidos de diferentes texturas ou opacidades (ex.: pulmão e coração). Sin.: margem, borda.

    Linfonodomegalia. S. f. Restrito ao aumento nas dimensões do(s) linfonodo(s). Desde que “adeno”, especificamente, se relaciona com estruturas glandulares e que linfonodos não são glândulas, o termo adeno é falso e seu uso, condenável. Os métodos de imagem, de maneira geral, avaliam as dimensões do linfonodos, sendo apropriado o termo linfonodomegalia. Linfonodopatia fica reservado para situações em que se pode diagnosticar patologia pela avaliação intrínseca, independentemente das dimensões.

    Linha subpleural. S. f. Opacidade curvilínea fina, que mede poucos milímetros de espessura, usualmente a menos de 1 cm da superfície pleural e paralela à pleura. Indicador inespecífico de atelectasia, edema, fibrose ou inflamação.

    Linhas intralobulares. S. f. Opacidades lineares finas, que aparecem no interior do lóbulo, quando o interstício intralobular está espessado. Quando numerosas, fornecem o aspecto de padrão reticular fino.

    Lóbulo pulmonar secundário S. m. 1. (Anat.) A menor unidade pulmonar envolta por septo de tecido conectivo. Este septo, conhecido como “septo interlobular”, é revelado melhor na região periférica anterior, lateral e justamediastinal dos lobos superiores, médio e na periferia da região diafragmática anterior dos lobos inferiores. O septo tende a ser incompleto ou ausente nas demais regiões do pulmão. 2. (Anat.) Unidade do pulmão subentendida por qualquer bronquíolo que dê de três a cinco bronquíolos terminais. O septo de tecido conectivo não faz parte desta definição. 3. (TC) Lóbulo de Miller é o lóbulo secundário que é identificado na TC.

    Micronódulo. S. m. Opacidade focal arredondada, pequena, isolada, com pelo menos atenuação de tecidos moles e apresentando diâmetro não maior que 7 mm. Alguns autores têm limitado o uso deste termo para diâmetro menor que 5 mm ou menor que 3 mm. Outros autores simplesmente usam o termo “nódulo pequeno”. Veja nódulo.

    Massa. S. f. (Radiol.) Qualquer lesão pulmonar ou pleural representada, na radiografia, por opacidade isolada maior do que 30 mm em diâmetro (sem relação ao contorno, características das bordas ou homogeneidade), mas explicitamente mostrada ou presumida ser em três dimensões.

    Nódulo. S. m. 1. (Patol.) Pequeno foco circunscrito de tecido anormal, grosseiramente esférico. 2. (Radiol.) Opacidade arredondada, moderadamente bem marginada e não maior do que 3 cm no diâmetro maior. Alguns autores usam o modificador “pequeno” se a opacidade apresentar menos que l cm de diâmetro. Veja micronódulo.

    Opacidade. S. f. (Radiol.) Imagem que atenua mais o feixe de raios X do que as estruturas adjacentes. Na tomografia de tórax aparece como área mais branca (de menor densidade fotométrica) do que seus arredores. Usualmente aplicada a imagens de coleções líquidas e tecidos pulmonares não específicos, nos quais a atenuação excede a do pulmão aerado adjacente.

    Opacidade em vidro fosco. S. f. Aumento da atenuação pulmonar, porém sem obscurecer as margens brônquicas e vasculares, causado por preenchimento parcial do espaço aéreo, espessamento intersticial, colapso parcial alveolar, expiração normal ou aumento do volume sanguíneo capilar. Não confundir com “consolidação”, em que as margens broncovasculares estão obscurecidas. Pode estar associada com broncograma aéreo. Sin.: atenuação em vidro fosco.

    Opacidade linear. S. f. Imagem linear fina, alongada, com densidade de tecido de partes moles. Raramente, calcificação ou material estranho podem aumentar a atenuação.

    Opacidade pendente. S. f. Aumento da atenuação no pulmão pendente (a região pulmonar mais baixa, que sofre maior efeito da gravidade). A atenuação aumentada desaparece com a mudança de posição do paciente. Pode também aparecer como uma linha subpleural.

    Opacificação parenquimatosa. S. f. Aumento na atenuação pulmonar, que pode ou não obscurecer as margens dos vasos e paredes das vias aéreas. “Consolidação” indica que existe perda da definição dessas margens (com exceção do broncograma aéreo), enquanto “opacidade em vidro fosco” indica menor aumento na atenuação, na qual a definição das margens está preservada. Sempre que possível, usar os termos mais específicos “consolidação” ou “opacidade em vidro fosco”.

    Pavimentação em mosaico. S. f. Padrão na TCAR em que se observam áreas de opacidade em vidro fosco com septos interlobulares espessados de permeio.

    Perfusão em mosaico. S. f. Aparência em retalho de uma região com várias atenuações, interpretada como sendo secundária à diferença de perfusão regional. É termo mais adequado do que o originalmente descrito “oligoemia em mosaico”. Aprisionamento aéreo secundário a obstrução brônquica ou bronquiolar pode produzir zonas focais de atenuação diminuída, que podem se tornar mais evidentes com TC expiratória.

    Pneumatocele. S. f. (Patol./radiol.) Espaço preenchido por gás com paredes finas dentro do pulmão, usualmente ocorrendo em associação com pneumonia aguda (mais comumente de origem estafilocócica) e invariavelmente transitória.

    Pseudoplaca. S. f. Banda irregular, de opacidade pulmonar periférica, adjacente à pleura visceral, que simula o aspecto de placa pleural, mas é formada por pequenos nódulos coalescentes (ex.: pneumoconiose dos trabalhadores em minas de carvão).

    Reticulação. S. f. Imagem formada por inúmeras linhas entrelaçadas, que sugere uma malha. Termo descritivo habitualmente associado com doenças pulmonares intersticiais. Pode ser fina, intermediária ou grossa. Sin.: padrão reticular.

    Sinal da árvore em brotamento. S. m. Dilatação nodular de estruturas ramificadas centrolobulares, que lembram árvore em brotamento e que representam dilatação exsudativa bronquiolar (ex.: panbronquiolite ou disseminação endobrônquica de tuberculose pulmonar em atividade).

    Sinal do anel de sinete. S. m. Opacidade areolar (usualmente representa um brônquio dilatado, com paredes espessas) em associação com opacidade pequena, arredondada, de tecidos moles (a artéria pulmonar adjacente ou raramente artéria brônquica dilatada), lembrando um “anel de sinete”. Usualmente este achado indica bronquiectasia, mas pode também ocorrer no carcinoma bronquioloalveolar multifocal e adenocarcinoma metastático.

    Sinal do crescente aéreo. S. m. Ar com a forma de crescente em um nódulo ou massa, onde o ar separa a parede externa da lesão de uma área interna de seqüestro, que freqüentemente corresponde a uma bola fúngica de Aspergillus sp.

    Sinal do halo. S. m. Opacidade em vidro fosco circundando um nódulo ou massa. Pode ser um sinal de aspergilose invasiva ou hemorragia por várias causas.

    Sinal do septo em contas (do rosário). S. m. Espessamento septal irregular que lembra o aspecto de uma fileira de contas; é habitualmente um sinal de linfangite carcinomatosa, mas raramente pode ocorrer na sarcoidose. Como o aspecto do espessamento é habitualmente mais irregular do que “em contas”, o termo “espessamento septal irregular” é geralmente preferido.

  • A equipe de enfermagem e Maslow: (in)satisfações no trabalho

    Fonte:  VITORIA-REGIS, Lorena Fagundes Ladeia; PORTO, I. S. . A Equipe de Enfermagem e Maslow: (In)satisfações no trabalho. Revista Brasileira de Enfermagem, v. 59, p. 565-568, 2006

    A Enfermagem vem apontando em pesquisas científicas visões e considerações sobre a profissão de maneira que lhe permita atualizar e construir um caminho profissional mais consistente.

    O cuidado em edificar uma história para Enfermagem com mais coerência cientifica permite aos enfermeiros um crescimento intenso e apurado, capaz de alcançar um futuro mais atuante e decisivo.

    Neste contexto, este artigo tem a finalidade de expor e refletir sobre uma nova proposta de estudo aplicada a Enfermagem, que envolve as (in)satisfações no trabalho dos integrantes da equipe de enfermagem, como ponto fundamental na realização e desenvolvimento de suas atividades. A retomada das necessidades humanas básicas é um instrumento essencial para compreender fatores que motivam essas atividades gerando (in)satisfação e bom desempenho desta equipe no trabalho.

    No decorrer de nossas trajetórias profissionais pudemos perceber que a insatisfação da equipe de enfermagem no trabalho era marcante e visível. Desde então, começamos a questionar o motivo de tantas insatisfações e se havia comprometimento da assistência aos pacientes. Estava claro para nós que o cuidado prestado reside em cada um dos integrantes da equipe de enfermagem sendo influenciado através dos nossos desejos, necessidades e satisfações.

    “Tudo que existe e vive precisa ser cuidado para continuar a existir e a viver”. Então, entendemos que as ações na Enfermagem estavam além das aparências e repousavam na sua essência. Os valores, fundamentos, sentimentos e ações dos integrantes da equipe refletiamse na prática. Assim, o ambiente passava a ser espelho das relações pessoais e sociais. “O ambiente é como um sistema biológico, social, político e econômico que se organiza, desorganiza-se e reorganiza-se”.

    Neste ambiente as pessoas criam identidade própria, modos de viver e cuidar, no qual suas (in)satisfações estão totalmente implícitas no processo de vivência influenciando as relações existentes neste espaço. Diante destes questionamentos, a (in)satisfação dos integrantes da equipe de enfermagem apresenta uma relação com a interação necessária à realização do cuidado podendo comprometer a assistência que será prestada.

    A satisfação é “ação ou efeito de realizar-se; prazer, contentamento; corresponder às expectativas, corresponder ao que se deseja”. Em psicologia, “satisfação é o resultado de uma variedade de atitudes da pessoa perante fatores associados ao seu trabalho e atitude no trabalho designa o sentimento que o empregado experimenta a propósito do seu emprego”.

    Poucas propostas relativas aos integrantes da equipe de enfermagem e sua influência sobre o cuidado são discutidas no sentido de abordar suas (in)satisfação e estresse dentro do trabalho, salvo a proposta que envolve o saber – fazer da enfermagem. Sendo assim, o nível de satisfação profissional vem tornando-se fator essencial, determinante e discutível para melhor entendimento do cuidado. O cuidar deve ser entendido como a realização de ações na enfermagem considerando-se inevitável à satisfação de um conjunto de necessidades tanto da clientela, como dos integrantes da equipe de enfermagem que executam este cuidado envolvendo mais interação e autonomia. Para tal, esta reflexão propõe uma discussão acerca da teoria da motivação humana ou hierarquia das necessidades humanas básicas de Abraham Maslow correlacionandoa com as ações dentro da Enfermagem. Nessa hierarquia os indivíduos estão em processo contínuo de desenvolvimento tendendo a transitar por entre as necessidades e em busca da auto-realização.

    1. A TEORIA DAS NECESSIDADES HUMANAS BÁSICAS

    Ao atingirem as necessidades fisiológicas, de segurança, sociais, de estima e auto-realização os seres humanos atingem também a satisfação necessária para desempenharem melhor as suas atividades. Maslow é um psicólogo e pesquisador do comportamento humano bastante conhecido na Enfermagem, pois Wanda Horta, em seus estudos como enfermeira pioneira no Brasil adaptou a teoria das necessidades humanas básicas para a Enfermagem, aplicando as idéias de Maslow ao processo de cuidar. Nesta abordagem da teoria aplicada a profissão, a enfermeira é o agente responsável que realiza o processo de planejamento para cuidar das necessidades básicas do cliente, estabelecendo uma ação direta e atuante da Enfermagem diante dos problemas apresentados por ele. Com esta adaptação, Wanda Horta trouxe para a Enfermagem a observação, interação e intervenção junto ao cliente para satisfazer suas necessidades humanas básicas.

    Por outro lado, Maslow concebeu a teoria da motivação humana baseada na hierarquia das necessidades humanas básicas. Esta teoria parte do princípio de que todo ser humano tem necessidades comuns que motivam seu comportamento no sentido de satisfazê-las, associandoas a uma hierarquia. O ser humano, como está sempre buscando satisfação, quando experimenta alguma satisfação em um dado nível, logo se desloca para o próximo e assim sucessivamente. Na sua teoria Maslow classifica, hierarquicamente, as necessidades em cinco níveis, a saber:

    • Necessidades básicas ou fisiológicas: aquelas diretamente relacionadas à existência e a sobrevivência do ser humano, estando neste grupo as necessidades de alimento, água, vestuário, sexo e saneamento. Para Maslow, as necessidades fisiológicas são o ponto de partida para a teoria, pois elas são primordiais. As necessidades fisiológicas se referem às necessidades biológicas do indivíduo. São as mais prementes, dominando a direção do comportamento do ser humano quando esta se encontra insatisfeito. Assim, uma pessoa dominada por tal necessidade tende a perceber apenas os estímulos que visam satisfazê-las, sua visão de futuro fica limitada e determinada por tal necessidade.
    • Necessidades de segurança: estão nesse grupo as necessidades relacionadas à proteção individual contra perigos e ameaças como, por exemplo, a necessidade de saúde, trabalho, seguro, previdência social e ordem social. Maslow ressalta que a necessidade de segurança permite o indivíduo dar preferência pelas coisas familiares, tender por uma religião ou filosofia de vida e pelas rotinas do dia a dia. Porém, a necessidade de segurança só pode ser considerada um motivador ativo e dominante caso encontre-se em momentos de urgência. Sobre este pensamento: “as necessidades de segurança têm grande importância, de vez que na vida organizacional as pessoas tem uma relação de dependência com a organização e onde as ações gerenciais arbitrárias ou as decisões inconsistentes e incoerentes podem provocar incerteza ou insegurança nas pessoas quanto a sua permanência no trabalho”.
    • Necessidades sociais: relacionadas à vida em sociedade, englobando necessidades de convívio, amizade, respeito amor, lazer e participação. Estas são as necessidades de convívio social referindo as necessidades de afeto das pessoas que convivemos tais como; amigos, noiva, esposa e filhos. O ser humano tenderá a construir relacionamentos afetivos com o intuito de se sentir integrado, parte de um grupo em sociedade. Assim, “quando as necessidades sociais não estão suficientemente satisfeitas, a pessoa se torna resistente, antagônica e hostil com relação às pessoas que a cercam. A frustração dessas necessidades conduz geralmente a falta de adaptação social e a solidão. A necessidade de dar e receber afeto é uma importante ativadora do comportamento humano quando se utiliza a administração participativa”.
    • Necessidades do ego (estima): guardam relação com a autosatisfação, caracterizando-se como necessidades de independência, apreciação, dignidade, reconhecimento, igualdade subjetiva, respeito e oportunidades. Elas expressam as necessidades ou desejos das pessoas de alcançarem uma auto-avaliação estável, bem como uma auto-estima firmemente baseada em sua personalidade. A satisfação destas necessidades conduz a sentimentos de autoconfiança, valor, força, capacidade, suficiência e utilidade ao mundo. “Pero la frustración de estas necesidades, produce sentimientos de inferioridad, debilidad o impotencia, puede conseguirse fácilmente un estímulo de la neurosis traumática grave”.
    • Necessidades de auto-realização: expressam o mais alto nível das necessidades estando diretamente relacionadas à realização integral do indivíduo. Neste grupo estão as necessidades de utilização plena das potencialidades, de capacidade e da existência de ideologias. São necessidades de crescimento revelando uma tendência de todo ser humano para realizar plenamente o seu potencial. Essa tendência pode ser expressa como o desejo de a pessoa tornar-se sempre mais do que é e de vir a ser tudo o que pode ser. Neste sentido: “Un músico tiene que hacer música, un artista tiene que pintar, un poeta tiene que escribir, si quieren estar en paz con sus respectivas personalidades. Un hombre tiene que ser lo que puede ser”.

    A necessidade de auto-realização não se extingue pelo pleno ato de saciar. Quanto maior for a satisfação experimentada, tanto maior e mais importante parecerá à necessidade. O surgimento claro desta necessidade descansa na satisfação anterior das necessidades fisiológicas, de segurança, de amor e estima.

    Além das cinco necessidades citadas, acrescentou-se à teoria, o desejo de todo ser humano de saber e conhecer. Há assim, uma necessidade natural do ser humano de buscar o sentido das coisas, de forma a organizar o mundo em que vive. São as necessidades denominadas cognitivas, que incluem os desejos de saber, de compreender, sistematizar, organizar, analisar e procurar relações e sentidos. Estas necessidades viriam antes da auto-realização. A necessidade de ajudar os outros a se desenvolverem e a realizarem seu potencial foi denominada como transcendente e viria posteriormente à auto-realização.

    Existem certas pré-condições para que as necessidades básicas possam ser satisfeitas e sem essas precondições seria impossível a satisfação das necessidades. São elas: liberdade de falar, liberdade de expressão, liberdade para investigar e buscar informação, liberdade para se defender e buscar justiça, equidade, honestidade e permanência garantida dentro do grupo. “Al frustrarse estas libertades, el individuo reaccionará con una respuesta de amenaza o emergencia” .

    Nesta teoria, a hierarquia entre as necessidades está ligada às características do ser humano, independente do sistema de produção. Este sistema precisa satisfazê-las, sob pena de criar/ampliar a pressão por parte dos sujeitos envolvidos. Para Maslow, o comportamento é motivado por necessidades a que ele deu o nome de necessidades fundamentais.

    As necessidades fundamentais podem ser classificadas em necessidades superiores e necessidades inferiores que se orientam sob a base do principio de potencia relativa. “Las necesidades básicas se ordenan por si mismas en una jerarquía perfectamente definitiva, sobre la base del principio de potencia relativa”. Podemos então descrever que as necessidades inferiores dependem de condições internas do próprio indivíduo, por isto estão muito mais localizadas, são instintivas, animais, perceptíveis, mais numerosas, fáceis de serem medidas (tangíveis) e mais limitadas que as superiores.

    As necessidades superiores requerem condições externas favoráveis que estejam mais acessíveis à satisfação. São menos numerosas, por isto menos perceptíveis, menos controláveis, desenvolvem conseqüências cívicas e sociais importantes e produzem melhores resultados subjetivos tendo como exemplo, a felicidade, serenidade e riqueza da vida interna. Quando estas necessidades estão satisfeitas significa que o indivíduo alcançou maior eficiência biológica, maior longevidade, menos enfermidades. Sendo assim, elas são mais humanas e refletem a auto-realização. Sobre estas afirmações: “Usualmente, dan mayor importancia a la necesidad superior que a la inferior aquellos que han satisfecho las dos. Aquellos que han conocido ambas consideran el autorrespeto más importante, subjetivamente, que un estómago lleno. Tales personas podrán sacrificarse más fácilmente por contentar apetitos superiores y estarán fácilmente dispuestas a resistir la privación inferior”.

    O intuito em satisfazer as necessidades básicas está também associado a uma série ascendente de níveis de saúde psicológica. Um homem que ganha respeito e admiração dos que estão a sua volta, podendo desenvolver sua auto-estima, favorece progressivamente o próprio equilíbrio psicológico. “Tal hipótesis nos lleva a estudiar hechos antes descuidados y plantear de nuevo muchas cuestiones antiguas que no han sido contestadas”.

    Assim foram levantados os seguintes pressupostos da Teoria das Necessidades Humanas Básicas:

    • O princípio mais importante da vida motivacional é a organização das necessidades em uma hierarquia de prioridade ou potencial;
    • O comportamento humano está determinado pelas necessidades básicas e conseqüentemente motivado por elas;
    • Existem pré-condições para que as necessidades sejam satisfeitas;
    • Quando parcialmente ou satisfeita uma necessidade aparece outra do tipo superior;
    • As necessidades inferiores são mais internas, estimuladas por questões do próprio indivíduo; e as necessidades superiores são mais externas, estimuladas por questões de fora do indivíduo;
    • Quando o indivíduo atinge parcialmente suas necessidades, atinge também uma série ascendente de graus de saúde psicológica e satisfação;
    • Um individuo insatisfeito é um homem enfermo (doente);
    • A não satisfação das necessidades básicas, com o tempo pode significar o surgimento de patologias graves;
    • A insatisfação das necessidades leva o individuo a não desenvolver o máximo de suas potencialidades.

    Esta teoria não é a única que explica o comportamento humano, pois nem todo comportamento é determinado pelas necessidades. As necessidades fundamentais são em grande parte inconscientes e por outro lado, os fatores sócio-culturais também influenciam na forma ou objetos, nos quais os homens buscam satisfazer suas necessidades.

    1. A TEORIA DA MOTIVAÇÃO HUMANA E A ENFERMAGEM

    Considerando-se o conteúdo exposto, é preciso reavaliar constantemente esse conhecimento, essa prática pela diversidade e essa singularidade do sujeito que cuida, durante as suas atividades. A prática em algumas instituições de saúde tem mostrado que as insatisfações que afetam seus funcionários afetam também o processo de seu desenvolvimento no trabalho e devem ser levadas à reflexão, possibilitando ações coletivas para minimizar ou resolver tais problemas.

    A Enfermagem é uma profissão a serviço do ser humano e da dinâmica que envolve quem cuida e quem é cuidado (seus clientes). O cuidado é, antes de tudo, um exercício dos seres humanos e uma arte de observar, saber e fazer. Por isto, não se trata de uma ação técnica a ser estudada e desenvolvida, tal como uma função braçal. Na profissão estão implícitas as relações humanas e as implicações que definem sua prática e tudo a sua volta. Jamais analisar-se-á a Enfermagem, sem antes reconhecer que dela nasce um universo humano extraordinário, revelador e original. A respeito desta afirmativa:

    A Enfermagem é uma atividade de cuidado aos seres humanos e, como processo de trabalho, tem um objetivo e uma direção. Tem uma finalidade de trabalho que ao ser caracterizado define a tendência da sua ação. Tais afirmações significam que a prática da Enfermagem revela mais do que apenas um fazer técnico, revela a origem e consequência desse fazer.

    Diante dessas argumentações fica fácil compreender porque a Enfermagem traz em si um movimento humano, pois ela é uma ciência em construção capaz de gerar relações e reações humanas. Partindo desta afirmativa, podemos utilizar a retomada das necessidades humanas básicas, como uma abordagem capaz de identificar as necessidades da equipe de enfermagem, suas (in)satisfações no trabalho.

    A Enfermagem sempre foi uma profissão que concebeu seres humanos cuidando de outros seres humanos, que interagem reagindo a cada (des)encontro e demonstrando (in)satisfações. Ao contato entre quem cuida e quem é cuidado, que se materializa com a realização do cuidado de enfermagem oferecido, aparecem as conseqüências de um desempenho de trabalho excelente ou frustrado.

    A interação entre a teoria da motivação humana de Maslow e algumas características da prática da enfermagem leva a perceber que as necessidades humanas podem influenciar o desenvolvimento das atividades da equipe de enfermagem no trabalho. Portanto, a teoria pode ser utilizada tanto para fundamentar esta pesquisa, quanto a outras pesquisas de enfermagem que busquem compreender o comportamento dos indivíduos no trabalho.

  • Consequências da Radioterapia na Região de Cabeça e Pescoço: Uma Revisão da Literatura

    Fonte: Gabriela Botelho Martins ; LÔBO, Aylla Lorena Gomes . Consequências da radioterapia na região de cabeça e pescoço: Uma revisão de literatura. Revista Portuguesa de Estomatologia e Cirurgia Maxilofacial, v. 04, p. 251-255, 2009.

    O cancro de boca é uma denominação que inclui os cancro de lábio e de cavidade oral, que envolve a mucosa bucal, gengiva, palato duro, língua e assoalho da boca. Segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (2008), o cancro representa a 3ª causa de morte no Brasil, estima-se que nos anos de 2008 e 2009, serão diagnosticados mais de 14.160 novos casos de neoplasias da cavidade oral, entre homens e mulheres, em uma proporção de 3:1 para o sexo masculino.

    Os principais tratamentos disponíveis para o controle dessas neoplasias são a cirurgia de cabeça e pescoço, a radioterapia e a quimioterapia, escolhidos de acordo com a localização, tipo histológico da neoplasia, estadiamento clínico e condições físicas do paciente. Geralmente a cirurgia é o tratamento de escolha, podendo ou não estar associada à radioterapia, sendo a quimioterapia utilizada de forma paliativa nos casos mais avançados. Porém, segundo Sonis (1996), apesar dos benefícios trazidos no tratamento do cancro com o uso da radioterapia, a mesma é capaz de provocar efeitos adversos nos campos de radiação, e em relação à cavidade bucal, as principais alterações ocorrem na pele, mucosa, ossos, glândulas salivares e dentes.

    A radioterapia ocupa um lugar importante no tratamento dos carcinomas da região de cabeça e pescoço, e destrói tanto células tumorais como também normais, principalmente as células presentes em tecidos de mudança rápida, como é o caso do epitélio oral.

    Entre os efeitos adversos mais comuns da radioterapia que atingem a cavidade oral, estão: mucosite, xerostomia, infecções secundárias, cáries por radiação, trismo, disgeusia e osteorradionecrose. Sendo assim, o médico dentista desempenha um papel importante na equipe multidisciplinar que atua no atendimento dos pacientes oncológicos, pois o mesmo deve participar do planeamento das diferentes fases de tratamento dessas lesões, além de acompanhar, preparar e orientar ao paciente no que diz respeito às sequelas provocadas pela terapia antineoplásica.

    O objectivo desse trabalho é fazer uma revisão de literatura acerca das principais sequelas provenientes da radioterapia de cabeça e pescoço que acometem a cavidade oral dos pacientes oncológicos, além de reafirmar a importância do médico dentista na prevenção e controle das mesmas.

    RADIOTERAPIA EM CABEÇA E PESCOÇO

    A radioterapia, de um modo geral, pode ter três objetivos distintos: curativo, remissivo e sintomático. Quando o objectivo do tratamento é extinguir todas as células neoplásicas, diz-se que a radioterapia utilizada é de carácter curativo, quando se deseja reduzir parte do tumor ou complementar o tratamento cirúrgico ou quimioterápico, usa-se a remissiva; ao passo que, a finalidade sintomática das radiações é indicada nos casos de dor localizada. Nesses casos, as metástases ósseas são as mais beneficiadas no tratamento da dor, visto que as partes moles e os órgãos da cavidade peritoneal são menos favorecidos neste tipo de tratamento.

    A prevalência e a intensidade das complicações orais ocasionadas durante o tratamento radioterápico vão depender da dose aplicada e do campo de incidência da radiação. Segundo Arisawa et al. (2005), as complicações orais decorrentes do tratamento antineoplásico ocorrem em aproximadamente 90% dos pacientes portadores de neoplasias malignas de cabeça e pescoço e estão relacionadas entre outros factores, com as doses e poder de penetração das radiações, além de respostas individuais de cada paciente. As células presentes na mucosa da cavidade oral, faringe e laringe possuem uma alta capacidade mitótica e baixa radiorresistência, por isso tornam-se alvos fáceis ao desenvolvimento de efeitos adversos causados pela exposição à radiação.

    EFEITOS ADVERSOS DA RADIAÇÃO IONIZANTE NA REGIÃO DE CABEÇA E PESCOÇO

    Os efeitos colaterais mais comuns da radioterapia na região de cabeça e pescoço são: dermatite, mucosite, xerostomia, disgeusia, disfagia, trismo, cárie de radiação, osteorradionecrose, os quais podem ser precoces e tardios, reversíveis ou irreversíveis.

    Almeida et al., em 2004, realizaram um estudo com 30 pacientes portadores de carcinoma na cavidade oral e orofaringe, com o objectivo de avaliar as principais sequelas da radioterapia e propor um protocolo de prevenção e tratamento das mesmas. Os resultados mostraram que 17% dos pacientes irradiados apresentaram redução do fluxo salivar, 33% tiveram cárie de radiação, 75% desenvolveram trismo, e 67% apresentaram mucosite.

    MUCOSITE ORAL

    A mucosite é um dos primeiros sinais clínicos que aparecem na cavidade oral durante a radioterapia de cabeça e pescoço, iniciando geralmente durante a segunda semana de tratamento. Caracteriza-se por edema, eritema, ulceração, presença de pseudomembranas, além de dor e dificuldade na deglutição. Costuma causar desconforto e o paciente pode ser orientado a fazer bochechos com clorohexidina a 0,2% e aplicação de anestésico tópico no local atingido.

    Albuquerque e Camargo, em 2006(11), realizaram uma revisão sistemática sobre mucosite oral com 33 artigos publicados entre 2000 e 2005. Avaliaram os diferentes níveis de intensidade de mucosite oral, além das principais intervenções e tratamentos mais recomendados na literatura, como orientações sobre higiene oral e dieta, uso de antifúngicos, antibióticos, complexos vitamínicos, além de soluções de clorohexidina e bicarbonato de sódio para bochechos diários. Como conclusão, consideraram que a mucosite é um dos efeitos adversos mais comuns do tratamento radioterápico, sendo caracterizada por uma inflamação na mucosa, com presença de eritema e ulceração, geralmente associada à dor e dificuldade de deglutição. Nos casos mais agressivos e dolorosos, é considerado um fator dose limitante na terapia antineoplásica.

    XEROSTOMIA

    A xerostomia é relatada como “sensação de boca seca”, e se inicia após a segunda semana de tratamento em uma dose de 2000 a 2500cGy aproximadamente. Ressaltando que, doses acima de 6000cGy provocam modificações quase sempre irreversíveis na produção e consistência salivar(10). Esta complicação muito comum da radioterapia ocorre devido à inclusão das glândulas salivares no campo de radiação. Estas estruturas, por serem radiossensíveis, sofrem prejuízo na sua função secretora por atrofia dos ácinos serosos, o que torna a saliva mais espessa e viscosa, além de prejudicar o seu efeito bactericida. Este fato favorece o crescimento da microbiota cariogénica e consequentemente o aparecimento de cárie secundária. Além disso, os pacientes se queixam de dificuldade de deglutição, provavelmente devido à reduzida lubrificação oral.

    Guebur et al. (2004) avaliaram o fluxo salivar em 12 pacientes, fumantes, portadores de carcinoma espinocelular submetidos à radioterapia na região de cabeça e pescoço, com doses de radiação entre 5280 e 7040 cGy. Concluíram que 90% desses pacientes apresentaram uma diminuição considerável do fluxo salivar durante o tratamento.

    Rubira et al. (2007) fizeram um estudo longitudinal com 100 pacientes portadores de neoplasias malignas de cabeça e pescoço, com o objectivo de identificar e avaliar os principais efeitos adversos na cavidade oral causados pela radioterapia. Os pacientes foram submetidos à anamnese, exame físico e exames complementares, como sialometria, medida do pH salivar e radiografia panorâmica. A amostra do estudo recebeu uma dose média de radiação de 5955 cGy. Foi possível observar que 30% dos pacientes relataram a perda total de paladar, com doses mais altas que 5000cGy, e 38 pacientes relataram dificuldades de deglutição, sintoma que caracteriza a disfagia, com uma dose média de radiação em torno de 6063cGy e campos de radiação que incluíram a região da orofaringe. Este estudo sugere que os efeitos da radioterapia persistem ao longo dos anos e dependem de um jogo das variáveis que incluem o campo de radia- ção, o uso de medicação para alívio da xerostomia, a dose de radiação e o tempo pós-radioterapia de avaliação do paciente. Apesar de uma leve melhora do fluxo salivar ao final do tratamento radioterápico, a redução salivar ainda continua sendo um dos principais efeitos colaterais da radioterapia nesta região.

    INFECÇÕES FÚNGICAS E BACTERIANAS

    Em pacientes debilitados devido à terapia para o cancro, podem ocorrer infecções bacterianas, fúngicas ou virais, que devem ser diagnosticadas e tratadas precocemente para evitar o envolvimento sistêmico desses indivíduos, podendo ser fatal.

    A infecção bacteriana presente na cavidade oral apresenta como principais sinais e sintomas dor, febre acima de 38ºC e lesões na mucosa e gengiva. As infecções odontogênicas são manifestadas através de episódios de dor relacionados à presença de cárie profunda, sensibilidade do dente à percussão e mudanças de temperatura. Por outro lado, a infecção viral, principalmente aquela causada pelo herpes simples e herpes zoster, tem sido observada com frequência em pacientes oncológicos, com manifestações intra e extrabucais, presença de eritema, lesões agrupadas e ulceradas que podem aparecer no palato, comissuras labiais ou abaixo do nariz.

    Buscando investigar a colonização por cândida associada à redução do fluxo salivar antes, durante e após a radioterapia cervicofacial, Bonan et al., em 2007, fizeram um estudo com 20 pacientes portadores de neoplasias malignas de cabeça e pescoço com indicação de radioterapia, sendo 24 pacientes saudá- veis e 09 pacientes já submetidos a radioterapia por no mínimo um ano. Como resultado desse estudo, foi observado que os pacientes irradiados apresentaram redução de fluxo salivar, aumento na colonização fúngica principalmente por C. albicans e C. Tropicalis, e diversificação das espécies de cândida presentes ao longo do tratamento.

    Outra complicação frequente observada nos pacientes em terapia antineoplásica, são as cáries de radiação, caracterizadas por possuírem uma rápida progressão, atingindo as superfícies lisas das regiões cervicais dos dentes devido à redução significativa do fluxo salivar, tornando-os mais susceptíveis ao acúmulo de biofilme dental e agregação da microbiota cariogênica na superfície.

    Em um estudo com 92 pacientes, irradiados e não irradiados, com o objectivo de avaliar o índice de CPOD (dentes cariados, perdidos e obturados) e presença de xerostomia, foi constatado que este índice apresentou diferenças significativas entre os grupos, onde foi mais elevado no grupo teste, excepto no que diz respeito ao escore correspondente a dente extraído. A xerostomia foi avaliada através da aplicação de um questionário, no qual os pacientes relatavam ou não a sensação de boca seca e dificuldade de deglutição, onde foi observada com maior frequência nos pacientes irradiados.

    TRISMO

    O trismo está relacionado às neoplasias malignas localizadas na região retromolar e palato mole, ocorrendo devido à exposição da articulação temporomandibular (ATM) e músculos mastigatórios às radiações, causando a fibrose gradual dos feixes musculares envolvidos. O paciente costuma relatar como primeiro sintoma a dificuldade de abertura de boca, fato que compromete a higiene oral do mesmo.

    OSTEORRADIONECROSE

    Osteorradionecrose é uma sequela tardia da radioterapia, que apresenta incidência de aproximadamente 40% nos pacientes irradiados na região de cabeça e pescoço, mais frequentemente identificada naqueles indivíduos que recebem doses acima de 6500 Gy, e se caracteriza pela destruição do tecido cutâneo da boca e consequente exposição do tecido ósseo necrótico, variando entre 3 e 6 meses. Após a exposição óssea, existe o desencadeamento de uma série de outros sinais e sintomas clínicos, como: fístulas orais ou cutâneas, drenagem de secreção purulenta, algia, dificuldade mastigatória, e trismos musculares. Os casos mais agressivos de osteorradionecrose podem evoluir rapidamente para fractura patológica do osso afectado.

    Segundo Monteiro et al. (2005), a osteorradionecrose é causada por uma necrose óssea isquêmica induzida pela radiação, onde o tecido ósseo tem a sua capacidade de remodelação e cicatrização prejudicada em carácter permanente. Dentre as suas consequências, é possível observar desde dor severa a osteomielites secundárias, alterações mastigatórias e fonéticas, além de infecções sistêmicas, comprometendo a qualidade de vida.

    Em 2005, Cardoso et al. realizaram um estudo longitudinal por 180 dias com 12 pacientes portadores de neoplasias malignas de cabeça e pescoço, acompanhados através da elaboração prévia de um plano de tratamento sistematizado referente às condições de saúde oral, executado antes, durante e no mínimo seis meses após a radioterapia. No exame intra oral, notou-se, de um modo geral, que os pacientes apresentavam cáries extensas, lesões periapicais, fístulas e mobilidade. O tratamento prévio foi executado o mais breve possível, além da prescrição de bochechos de clorohexidina a 0,2% e orientações de higiene oral. Ao final do estudo, foi observado que o acompanhamento odontológico sistemático contribuiu para promover melhores condições de restabelecimento em pacientes portadores de neoplasias malignas de cabeça e pescoço que se submetem à radioterapia.

    CONSIDERAÇÕES FINAIS

    A radioterapia na região de cabeça e pescoço, poderá acarretar uma série de efeitos adversos na cavidade oral. Dessa forma, se faz necessária a presença do médico dentista na equipe multidisciplinar de atendimento do paciente oncoló- gico, no intuito de desenvolver um planeamento individualizado e sistematizado para esse indivíduo, orientando-o quanto a prevenção e tratamento dos efeitos secundários da radioterapia. Além disso, é de suma importância, que os radioterapeutas envolvidos no processo multidisciplinar de atendimento, tenham conhecimento dessas sequelas e estabele- çam um fluxo de encaminhamento desses pacientes para centros odontológicos de referência, buscando minimizar e tratar os efeitos adversos que poderão surgir na cavidade oral, além de promover um acompanhamento contínuo que possa resgatar as condições ideais de saúde, contribuindo para a qualidade de vida e autoestima desses pacientes.

     

     

     

     

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