Fonte: http://segurancaocupacionales.com.br/
Por Emily Sobral
Já fiz, durante a vida, inúmeros exames de radiografia, que a gente chamava de “tirar uma chapa”. Como se vê, ao contar esse detalhe, entrego minha idade. Nos prontos socorros, por vezes, os médicos solicitavam o exame para que pudessem dar o diagnóstico sobre meus sintomas físicos. Enquanto aguardava minha vez, costumava ler na sala de espera as placas informando que grávidas devem evitar submeter-se ao Raio-X, por causa da radiação, o que pode prejudicar o bebê em formação. Ali sentada, imaginava: e se a mulher fizer o exame e não souber que está grávida? O que pode acontecer? As especulações duravam o tempo suficiente até a chegada da minha vez ao exame.
Agora, que escrevo diariamente sobre saúde e segurança do trabalho, penso um pouco mais: como deve ser a prevenção do técnico de radiologia, que todos os dias trabalha e fica exposto às radiações ionizantes, ainda que indiretamente? Finalmente, chego ao ponto da proteção radiológica dos trabalhadores, que interessa aos leitores deste blog. Inicialmente, as instituições de assistência à saúde devem informar por escrito aos técnicos de radiologia os valores de dose que, por segurança, devem ser inferiores a 20 mSV (mili Sievert) ao ano. O Sievert é uma unidade usada para medir o impacto da radiação sob o corpo humano. O prefixo micro está relacionado a uma parte por milhão (1/1.000.000). Nessa faixa de exposição radiológica, não há indicação para proteger o trabalhador. Também os efeitos cumulativos, nessa faixa de 20 mSV, não causam consequências à saúde. Segundo a legislação, 24 horas semanais deve ser a carga horária de trabalho do técnico. A proteção mais efetiva é a distância da fonte de emissão da radiação. Um aparelho de Raios-X portátil, por exemplo, dentro de uma UTI, em uma distância de 2,5 metros do ser humano, equivale a um biombo de chumbo. As técnicas radiográficas com baixos valores de mAs (miliampère) e s (tempo) reduzem o risco de irradiação aos trabalhadores. Outra maneira de blindagem é por meio de aventais de chumbo ou biombos. O mais adequado à proteção dos técnicos é a utilização de colimadores (instrumento a laser) para a limitação do feixe de Raios-X.
Quanto aos equipamentos de proteção individual, os essenciais são os aventais de chumbo, protetores de tireoide e óculos com equivalência em chumbo. Esses EPIs fornecem uma proteção de 90% em relação à radiação dispersada. Entretanto, todos os anos, os EPIs precisam ser submetidos a teste de totalidade, com a aplicação de Raios-X. Se houver deformação na manta de proteção, o EPI deve ser substituído. A fluoroscopia é indicada para verificar o avental. Em caso de não haver esse recurso, pode-se realizar o teste com o aparelho de Raios-X convencional. Ao numerar os aventais e indicar o local em que são utilizados, a gestão de segurança fica facilitada.
Ainda quanto à prevenção dos riscos, os dosimetros termoluminescentes (TLD) devem ser usados para checar a dose recebida pelo trabalhador.
Entretanto, a prevenção dos riscos aos técnicos de radiologia chama-se treinamento. Periodicamente, as equipes devem ser atualizadas sobre os protocolos de segurança. A calibração dos equipamentos também é importante, já que reduz a repetição do exame. Com relação à ampla gama de equipamentos radiológicos, aí destaco os mamógrafos, a aplicação de testes de controle de qualidade é primordial para que se opere com baixas doses de radiação. As normas de proteção radiológica da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) trouxeram resultados positivos. Assim, ações como a obrigatoriedade de se fazer levantamentos radiométricos nas salas vizinhas às radiológicas, testes de controle de qualidade dos equipamentos, testes de radiação de fuga das ampolas de Raios-X têm possibilitado maior segurança aos trabalhadores e pacientes. Infelizmente, há ainda no País muitas clínicas ortopédicas que utilizam Raios-X, mas não mantêm condições apropriadas à segurança dos profissionais. Nestas, estou fora, não “tiro chapa” de jeito nenhum.