Fonte: SOUZA, D.N.. Desenvolvimento de Módulos Dosimétricos para Radiologia. In: II Seminário de Pesquisa FAP-SE – Edital FAP-SE/ FUNTEC 2002, 2004, Aracaju. Anais Seminário de Pesquisa. Aracaju: FAP-SE, 2004. v. 1.
A principal fonte de exposição da população às radiações ionizantes artificiais são os exames radiológicos na área da saúde. Entretanto, as doses absorvidas em decorrência dos procedimentos nesta área são pequenas, quando comparadas com procedimentos radioterapêuticos, normalmente, não oferecendo riscos para a indução de efeitos determinísticos (De Werd et al, 1999). Mesmo assim, muitos dos procedimentos utilizados na radiologia clínica podem contribuir com uma dose de radiação significante ao paciente, até mesmo quando executados por operadores treinados no uso de tecnologias de redução de dose e de equipamentos modernos (Kron, 1999).
Diretrizes de proteção radiológica, com relevância para a proteção da saúde dos usuários de radiologia médica, têm sido editadas por órgãos nacionais e internacionais com o objetivo básico de estabelecer de otimização de serviços radiológicos, no que se refere ao controle de qualidade, a fim de estabelecer critérios para o uso da dose mínima necessária para alcançar uma boa qualidade da imagem (Ministério da Saúde, 1998; European Council Directive, 1997).
Uma das formas de investigação das doses absorvidas em procedimentos radiológicos é por meio de análises com módulos simuladores de partes do corpo humano. Estes módulos são compostos por material equivalente a tecido e dosímetros termoluminescentes (TLD). Os TLD são muito úteis em dosimetria médica, devido a qualidades como tamanho reduzido dos detectores e a possibilidade de serem produzidos com material de número atômico semelhante ao tecido biológico, tornando-os tecido equivalente.
O objetivo deste trabalho foi testar uma possibilidade de utilizar módulos simuladores dosimétricos, constituídos de acrílico e TLD, para aferição de dose em exames radiológicos de tórax de crianças e coluna espinhal de adultos realizados Aracaju, SE.
A investigação das doses absosrvidas por crianças em procedimentos radiológicos tem sido objeto de nvestigação em diversos trbalhos. Como as crianças estão sujeitas a sofrer, com um maior risco que os adultos, efeitos prejudiciais de exposição à radiação ionizante, é importante que a dose de radiação para crianças, decorrentes de exposição médica, seja criteriosamente analisada (Mooney e colaboradores, 1999; Oliveira e Khoury, 2003).
Embora não sejam encontrados na literatura trabalhos sobre dosimetria em densitometria óssea, é importante mensurar as doses absorvidas por indivíduos que se submetem a este tipo de exame. A medida da densidade mineral do osso, chamada densitometria óssea, pode ser realizada por um aparelho especial que utilize raios X de baixa energia. Este método é baseado no princípio da absorção de radiação pelos ossos. Seu objetivo é a comparação dos valores das densidades minerais de determinados ossos, obtidas por meio do exame densitométrico, com valores padrões para idade e sexo. Esta comparação possibilitará a obtenção da curva de perda óssea através do tempo para cada indivíduo (Heidekker et al, 2004).
Materiais e métodos
Fantomas (módulos simuladores) foram projetados e construídos para simular as dimensões dos tórax de crianças de dois, seis e dez anos de idade. Para cada idade foram construídos dois blocos de acrílico, preenchidos com água. Juntos, o par adquiria as dimensões relativas a cada idade (espessura, largura e altura). A espessura define o diâmetro ântero-posterior e a largura, o diâmetro látero-lateral dos módulos. Cada um dos blocos componentes do módulo simulador para a idade de dois anos possui 8,0 cm de espessura, 13,0 cm de largura e 16,5 cm de altura. Para a idade de seis anos estas dimensões são 10,0 cm, 14,0 cm, e 17,5 cm, respectivamente. O módulo simulador para a idade de dez anos tem a espessura de 12,0 cm, as demais dimensões são iguais as do módulo para a idade de seis anos.
Nos módulos simuladores de tórax, foram posicionados grupos de TLD-100 (LiF:Mg;Ti) na superfície de entrada e de saída do feixe e na meiaespessura. Uma câmara de ionização (MDH X-ray 2025) equivalente-ar foi utilizada para medidas de dose na superfície de entrada do feixe nos módulos. A dose na superfície de entrada foi expressa em termos de dose absorvida no ar, que é equivalente ao kerma no ar para as energias utilizadas em radiodiagnóstico (European Council Directive, 1997). As incertezas nas medidas com câmara de ionização foram de ± 3%.
Antes dos procedimentos de irradiação os TLD passaram por tratamentos térmicos para restaurar sua capacidade dosimétrica.
As medidas de termoluminescência foram feitas em uma leitora comercial Harshaw 3500, utilizando-se um programa de aquecimento linear com uma taxa de 5ºC/s no intervalo de temperatura entre 40 e 350 ºC.
Os parâmetros para as exposições radiográficas foram selecionados por radiologistas das duas instituições onde foram realizados os procedimentos, na Clínica de Medicina Nuclear, Endocrinologia e Diabetes (CLIMEDI) e no Hospital Universitário da Universidade Federal de Sergipe. Os equipamentos de raios X eram de marca Siemens. A Tabela 1 mostra os parâmetros técnicos utilizados nos exames radiográficos dos módulos simuladores de tórax.
As análises em densitometria óssea também foram realizadas utilizando-se um módulo dosimétrico de acrílico construído com placas de 9,0 mm de espessura. Após a montagem e colagem das placas, o módulo adquiriu o formato de paralelepípedo, com 3,0 cm de espessura, 3,0 cm de largura e 30,0 cm de comprimento (figura 1). Uma placa adicional de acrílico foi colocada sobre o módulo. Os dosímetros foram colocados sobre a placa adicional (na entrada do feixe), sob a placa adicional, na profundidade de 9.0 mm, e sob o módulo simulador.
As irradiações em densitometria foram feitas em um aparelho de marca PRODIGY pertencente à CLIMEDI. Como dosímetro, foram utilizadas pastilhas de CaSO4:Dy, por apresentar boa resposta termoluminescente quando expostas a energia do densitômetro e por serem de menor custo que os dosímetros TLD-100.
Resultados
Foram verificadas as doses absorvidas pelos módulos simuladores em exames radiológicos de tórax de criança e em análises densitométricas de coluna lombar.
A dose na superfície de entrada do módulo simulador de tórax de criança de dois anos, medida com uma câmara de ionização, foi de 78µGy. Tomando-se este valor como referência, foram estimadas as doses absorvidas na meia espessura e na superfície de saída do módulo, utilizando-se a resposta à dose dos TLD, foram calculadas as doses nas demais posições. Na meia espessura e na superfície de saída do módulo as doses foram 62,8% e 74,1% menores, respectivamente, que a dose absorvida pela superfície do módulo.
As doses absorvidas nos simuladores de crianças de seis e dez anos foram obtidas seguindo os mesmos procedimentos realizados para o módulo simulador de criança de dois anos. Para o módulo simulador de tórax de criança de seis anos, a dose na superfície de entrada foi de 74,4µGy espessura e na superfície de saída do feixe as doses foram 73,9% e 83,8% menores, respectivamente, do que a dose na superfície de entrada do feixe. O módulo simulador para tórax de criança de dez anos mostrou resultados similares aos observados no de seis anos.
As análises com o módulo de coluna lombar mostraram que a menor dose absorvida na entrada do módulo foi de 36.7 µGy. As doses sob a placa de 9 mm foram 42% menores que na superfície de entrada. As doses na saída tiveram seus valores reduzidos em 63%.
Conclusões
Os resultados analisados neste trabalho indicam que os módulos simuladores de tórax para uso em procedimentos de aferição de doses em radiologia pediátrica, construídos com acrílico, são potencialmente utilizáveis em controle de qualidade nestes procedimentos. Devido à facilidade de montagem destes módulos e ao baixo custo de produção, podem ser facilmente construídos com dimensões variadas.
O módulo da coluna lombar mostrou-se eficiente para dosimetria de feixes de raios-X utilizados em densitometria óssea. Como esperado, os dosímetros de CaSO4:Dy apresentaram uma resposta TL proporcional às doses liberadas pelo densitômetro.
Fonte: Jasinovodolinsky, D. et alii. Terminologia Para A Descrição De Tomografia Computadorizada Do Tórax. Radiol Bras vol.35 no.2 São Paulo Mar. 2002.
INTRODUÇÃO
Uma das grandes preocupações da ciência sempre foi estabelecer uma linguagem universal, a fim de facilitar a comunicação entre pessoas de diferentes nacionalidades e culturas. Isto permite, entre outras coisas, a comparação de resultados de trabalhos científicos e a troca de informações sobre um determinado assunto.
No Brasil, de proporções continentais, com uma cultura rica e variada, há a necessidade de se estabelecer um consenso de terminologia para se descrever os exames de imagem.
Especialmente em relação aos exames de imagem, isto não é tarefa fácil, pois na formação do radiologista em geral não há a preocupação de saber como se deve descrever uma lesão pulmonar. Esta situação se deve a vários fatores, como existir uma literatura muito variada, aprender “ouvindo” os radiologistas mais experientes, existir vícios de linguagem, que foram passados de geração em geração, as próprias características regionais, que influenciam no linguajar médico, e o uso indiscriminado de termos em inglês, sem uma real preocupação com a sua adequada tradução.
Além disso, ao se fazer um relatório, este passa a ser um documento, que será lido, no mínimo, por outro médico, que muitas vezes não entende o que está escrito, acarretando conseqüências ruins para todos os envolvidos neste processo, especialmente para a figura central do processo, o paciente.
Foi com essa preocupação que o Grupo de Tórax do Colégio Brasileiro de Radiologia, em conjunto com a Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia, resolveram fazer uma primeira proposta para um consenso brasileiro de terminologia em tórax, com base em consensos internacionais já existentes. Nesta primeira fase, é abordada a terminologia usada para os exames de tomografia computadorizada de alta resolução do tórax.
É muito importante que todos participem com sugestões e críticas, para que num futuro próximo possamos estabelecer um consenso que seja referendado por todas as sociedades representantes afins, as escolas médicas, os congressos, as universidades, as residências médicas e seja utilizado pela maioria dos radiologistas, para que se use uma linguagem em comum, compreensível tanto para o radiologista como para o pneumologista.
A partir desta publicação, durante um prazo de dois meses aguardaremos idéias e sugestões dos colegas radiologistas e pneumologistas de todo o País, para posteriormente divulgarmos o Consenso Brasileiro em TCAR do Tórax, que, esperamos, passe a ser usado no Brasil. As sugestões devem ser enviadas para o Dr. Arthur Soares Souza Jr (e-mail: asouzajr@terra.com.br).
GLOSSÁRIO EM TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA DE ALTA RESOLUÇÃO DO TÓRAX
Aprisionamento (seqüestro) aéreo. S. m. 1. (Fisiopatol.) Retenção de excesso de gás (“ar”) em todo ou em parte do pulmão, especialmente durante a expiração, tanto como resultado de obstrução parcial ou completa de vias aéreas, como também resultante de anormalidades focais da complacência pulmonar. Apesar de não ser de uso habitual, o termo “aprisionamento gasoso” é mais preciso. 2. (TC) Diminuição da atenuação do parênquima pulmonar, evidenciada especialmente por uma atenuação menor que o normal durante a expiração. Deve ser diferenciada de diminuição da atenuação por hipoperfusão secundária ao aumento da resistência da artéria pulmonar.
Banda parenquimatosa. S. f. Opacidade alongada, usualmente com vários milímetros de largura e com cerca de 5 cm de comprimento, freqüentemente estendendo-se até a pleura, a qual pode estar espessada e retraída no local do contato. Em geral corresponde a fibrose focal de causa não específica.
Bola fúngica.S. f. Coleção lembrando massa e representando enovelado de hifas, usualmente da espécieAspergillus, associado com muco, fibrina e restos celulares, colonizando uma cavidade pulmonar causada por uma doença prévia (ex.: tuberculose). Poderá mover-se com a mudança de posição do paciente. Sin.:micetoma.
Bolha. S. f.1. (Patol.) Espaço aéreo dilatado, bem demarcado, que mede 1 cm ou mais de diâmetro e possui paredes que habitualmente não ultrapassam 1 mm de espessura. 2. (TC) Espaço aéreo focal, arredondado, com 1 cm ou mais de diâmetro, demarcado por parede fina, habitualmente múltiplo ou associado com outros sinais de enfisema pulmonar. É o termo preferido para descrever todos os espaços contendo ar no pulmão, com exceção de pneumatocele.
Broncograma aéreo. S. m. (Radiol.) Imagem radiográfica de brônquio contendo ar, periférico ao hilo e circundado por pulmão desaerado (devido à absorção de ar, substituição de ar ou ambas). Este achado é geralmente reservado como evidência de permeabilidade das vias aéreas mais proximais. Qualquer imagem semelhante a uma faixa que reduz de calibre ou luscência, ramificada no interior de pulmão opacificado, correspondendo ao tamanho e distribuição de um brônquio ou brônquios, presume-se que represente um segmento da árvore brônquica.
Bronquiectasia. S. f.1. (Patol.) Aumento irreversível do calibre de brônquio ou brônquios, que freqüentemente apresentam espessamento de suas paredes. Quando moderada, a dilatação é cilíndrica (isto é, a redução progressiva normal do calibre do brônquio está ausente). Quando mais grave, a dilatação torna-se sacular e constrições irregulares podem estar presentes. Quando muito grave, o brônquio pode estar acentuadamente dilatado, especialmente em suas porções distais. 2. (TC) Dilatação dos brônquios, que freqüentemente apresentam espessamento de suas paredes.
Bronquiectasia de tração. S. f. Dilatação brônquica, geralmente irregular, em associação com opacidades justabrônquicas, que é interpretada como fibrose pulmonar retrátil.
Bronquiolectasia. S. f.1. (Patol.) Dilatação de um bronquíolo ou bronquíolos, que freqüentemente apresentam espessamento parietal. 2. (TC) Dilatação bronquiolar. Ver também bronquiolectasia de tração.
Bronquiolectasia de tração. S. f. Dilatação bronquiolar em associação com opacidade peribronquiolar, que é interpretada como fibrose pulmonar retrátil.
Cavidade. S. f.1. (Patol.) Massa no interior do parênquima pulmonar, cuja porção central apresentou necrose de liquefação, a qual foi expelida pela árvore brônquica, deixando espaço com conteúdo aéreo, contendo ou não líquido. 2. (Radiol.) Espaço contendo gás no interior do pulmão, com paredes com espessura acima de 1 mm e geralmente de contornos irregulares.
Cisto. S. m.1. (Patol.) Espaço arredondado, circunscrito, cercado por parede epitelial ou fibrosa, cuja espessura pode ser uniforme ou variável e que no pulmão habitualmente contém ar, mas que pode conter material sólido, semi-sólido ou líquido. 2. (Radiol.) Espaço parenquimatoso, arredondado, com paredes bem definidas, usualmente contendo ar, quando está no pulmão, mas sem enfisema associado; comumente utilizado para descrever espaço aéreo aumentado no estágio final de fibrose pulmonar idiopática ou sarcoidose, assim como na histiocitose de células de Langerhans e na linfangioliomiomatose. É o termo preferido para descrever qualquer espaço contendo gás de paredes finas no pulmão, que possua paredes com espessura maior que 1 mm.
Cistos de faveolamento. S. m. Cistos aéreos, usualmente com diâmetros semelhantes, medindo de 0,3 a 1 cm de diâmetro, vistos na fibrose pulmonar idiopática e em outras doenças pulmonares fibrosantes.
Consolidação. S. f. 1. (Patol.) É a substituição do ar alveolar por transudato, exsudato ou tecido. 2. (TC) Aumento homogêneo da atenuação do parênquima pulmonar, que obscurece as margens dos vasos e as paredes das vias aéreas. Pode estar presente broncograma aéreo.
Difuso. Adj.1. (Patofisiol.) Difusamente distribuído por todo um órgão ou tipo de tecido. 2. (Radiol.) Contínuo e difusamente distribuído (denominam-se as imagens e, por inferência, o estado ou processo que as produz). Sin.:disseminado, generalizado, sistêmico.
Termo útil e aceitável. No contexto de radiografia de tórax, “difuso” tem conotação de disseminado, anatomicamente contínuo, mas não necessariamente envolvendo todo o pulmão, ou outra estrutura torácica ou tecido;“disseminado” conota disseminação, porém com envolvimento anatomicamente descontínuo; “generalizado” conota envolvimento completo ou quase completo; “sistêmico” conota envolvimento de tecido ou estrutura torácica como parte do processo envolvendo todo o corpo.
Disseminado. Adj. (Patofisiol.) Disseminado, mas descontinuamente distribuído por um órgão ou tipo de tecido. 2. (Radiol.) Disseminado, mas anatomicamente descontínuo (é dito de imagens e, por inferência, de um estado ou processo que as produz).
Distorção arquitetural. S. f. Manifestação de doença pulmonar em que os brônquios, vasos pulmonares, fissura ou fissuras ou septos de lóbulos pulmonares secundários estão deslocados anormalmente.
Enfisema. S. m.1. (Patol.) Aumento permanente do espaço aéreo distal ao bronquíolo terminal, acompanhado de destruição das paredes alveolares. A ausência de “fibrose óbvia” historicamente tem sido considerada como um critério adicional, mas a validade deste critério recentemente tem sido questionada. 2. (TC) Região focal ou regiões de baixa atenuação, usualmente sem paredes visíveis, resultando de um real ou perceptível aumento de espaço aéreo e destruição das paredes alveolares. Pode estar associado com aprisionamento aéreo.
Enfisema acinar distal. S. m.1. (Patol.) Caracterizado por envolvimento predominantemente dos dutos e sacos alveolares, caracteristicamente acomete as regiões pulmonares subpleural, adjacente ao septo interlobular e vasos. 2. (TC) O enfisema é caracterizado por baixa atenuação subpleural ou bolha separada por septo interlobular intacto. Sin.: enfisema parasseptal.
Enfisema centrolobular. S. m.1. (Patol.) Caracterizado por septos centrolobulares alveolares destruídos e dilatação dos bronquíolos respiratórios. Freqüentemente ocorre nos campos pulmonares superiores em fumantes de cigarros. 2. (TC) Diminuição da atenuação centrolobular, habitualmente sem paredes visíveis, de distribuição não-uniforme e localizado predominantemente nos campos pulmonares superiores. Sin.:enfisema centro-acinar.
Enfisema panlobular. S. m.1. (Patol.) Enfisema que envolve, mais ou menos uniformemente, todas as porções do lóbulo secundário. Ele tende a predominar nos lobos inferiores e essa é a forma de enfisema associada à deficiência hereditária de alfa-1 antitripsina. 2. (TC) Enfisema que tende a mostrar decréscimo bastante uniforme da atenuação parenquimatosa e pobreza vascular. Enfisema panlobular grave pode ser indistinguível do enfisema centrolobular grave, a não ser pela distribuição zonal. Sin.:enfisema panacinar.
Espaço aéreo. S. f. (Anat./radiol.) Gás contido no parênquima pulmonar, incluindo os ácinos e excluindo o interstício e porções puramente condutoras do pulmão.
Espessamento do septo interlobular. S. m. Opacidade linear fina que corresponde ao septo interlobular, deve ser distinguida de estruturas centrolobulares. Aumento na espessura do septo interlobular, usualmente causado por edema, infiltração celular ou fibrose. Pode ser lisa, irregular ou nodular.
Estruturas centrolobulares. S. f.1. (Anat.) Estruturas tubulares centrais no lóbulo pulmonar secundário (isto é, a artéria e bronquíolo centrolobulares). 2. (TC) A artéria pulmonar e seus ramos imediatos em um lóbulo secundário; estas artérias medem aproximadamente 1 mm e 0,5 a 0,7 mm de diâmetro, respectivamente; na TCAR é possível obter imagens destes vasos. No entanto, o bronquíolo normal que supre o lóbulo secundário tem espessura de parede de aproximadamente 0,15 mm, que está além da resolução da TCAR. Conseqüentemente, vias aéreas normais nos lóbulos pulmonares secundários não são detectadas no exame de TC.
Faveolamento (favo-de-mel). S. m.1. (Patol.) Cistos pulmonares de destruição fibrosados, simbolizando perda completa da arquitetura acinar e bronquiolar, representando o estágio final da doença fibrosante pulmonar. 2. (TC) Espaços císticos agrupados, usualmente com diâmetros comparáveis, variando de 0,3 a 1 cm de diâmetro, mas que podem alcançar 2,5 cm, habitualmente em posição subpleural e caracterizados por paredes bem definidas, geralmente espessas. A presença de lesão consolidativa em pulmão enfisematoso pode simular esta condição e representa uma armadilha diagnóstica potencial.
Fissura. S. f.1. (Anat.) Dobra interna da pleura visceral, que separa um lobo ou a porção de um lobo de outro.2. (Radiol.) Opacidade linear com 1 mm ou menos de espessura, que corresponde, em posição e extensão, à separação anatômica dos lobos pulmonares ou porções dos lobos. Sin.: cissura.
Interface. S. f. (Radiol.) O limite comum entre as sombras de duas estruturas justapostas ou tecidos de diferentes texturas ou opacidades (ex.: pulmão e coração). Sin.: margem, borda.
Linfonodomegalia.S. f. Restrito ao aumento nas dimensões do(s)linfonodo(s). Desde que “adeno”, especificamente, se relaciona com estruturas glandulares e que linfonodos não são glândulas, o termo adeno é falso e seu uso, condenável. Os métodos de imagem, de maneira geral, avaliam as dimensões do linfonodos, sendo apropriado o termo linfonodomegalia. Linfonodopatia fica reservado para situações em que se pode diagnosticar patologia pela avaliação intrínseca, independentemente das dimensões.
Linha subpleural. S. f. Opacidade curvilínea fina, que mede poucos milímetros de espessura, usualmente a menos de 1 cm da superfície pleural e paralela à pleura. Indicador inespecífico de atelectasia, edema, fibrose ou inflamação.
Linhas intralobulares. S. f. Opacidades lineares finas, que aparecem no interior do lóbulo, quando o interstício intralobular está espessado. Quando numerosas, fornecem o aspecto de padrão reticular fino.
Lóbulo pulmonar secundário S. m.1. (Anat.) A menor unidade pulmonar envolta por septo de tecido conectivo. Este septo, conhecido como “septo interlobular”, é revelado melhor na região periférica anterior, lateral e justamediastinal dos lobos superiores, médio e na periferia da região diafragmática anterior dos lobos inferiores. O septo tende a ser incompleto ou ausente nas demais regiões do pulmão. 2. (Anat.) Unidade do pulmão subentendida por qualquer bronquíolo que dê de três a cinco bronquíolos terminais. O septo de tecido conectivo não faz parte desta definição. 3. (TC) Lóbulo de Miller é o lóbulo secundário que é identificado na TC.
Micronódulo. S. m. Opacidade focal arredondada, pequena, isolada, com pelo menos atenuação de tecidos moles e apresentando diâmetro não maior que 7 mm. Alguns autores têm limitado o uso deste termo para diâmetro menor que 5 mm ou menor que 3 mm. Outros autores simplesmente usam o termo “nódulo pequeno”. Veja nódulo.
Massa. S. f. (Radiol.) Qualquer lesão pulmonar ou pleural representada, na radiografia, por opacidade isolada maior do que 30 mm em diâmetro (sem relação ao contorno, características das bordas ou homogeneidade), mas explicitamente mostrada ou presumida ser em três dimensões.
Nódulo. S. m.1. (Patol.) Pequeno foco circunscrito de tecido anormal, grosseiramente esférico. 2. (Radiol.) Opacidade arredondada, moderadamente bem marginada e não maior do que 3 cm no diâmetro maior. Alguns autores usam o modificador “pequeno” se a opacidade apresentar menos que l cm de diâmetro. Veja micronódulo.
Opacidade. S. f. (Radiol.) Imagem que atenua mais o feixe de raios X do que as estruturas adjacentes. Na tomografia de tórax aparece como área mais branca (de menor densidade fotométrica) do que seus arredores. Usualmente aplicada a imagens de coleções líquidas e tecidos pulmonares não específicos, nos quais a atenuação excede a do pulmão aerado adjacente.
Opacidade em vidro fosco. S. f. Aumento da atenuação pulmonar, porém sem obscurecer as margens brônquicas e vasculares, causado por preenchimento parcial do espaço aéreo, espessamento intersticial, colapso parcial alveolar, expiração normal ou aumento do volume sanguíneo capilar. Não confundir com “consolidação”, em que as margens broncovasculares estão obscurecidas. Pode estar associada com broncograma aéreo. Sin.: atenuação em vidro fosco.
Opacidade linear. S. f. Imagem linear fina, alongada, com densidade de tecido de partes moles. Raramente, calcificação ou material estranho podem aumentar a atenuação.
Opacidade pendente. S. f. Aumento da atenuação no pulmão pendente (a região pulmonar mais baixa, que sofre maior efeito da gravidade). A atenuação aumentada desaparece com a mudança de posição do paciente. Pode também aparecer como uma linha subpleural.
Opacificação parenquimatosa. S. f. Aumento na atenuação pulmonar, que pode ou não obscurecer as margens dos vasos e paredes das vias aéreas. “Consolidação” indica que existe perda da definição dessas margens (com exceção do broncograma aéreo), enquanto “opacidade em vidro fosco” indica menor aumento na atenuação, na qual a definição das margens está preservada. Sempre que possível, usar os termos mais específicos “consolidação” ou “opacidade em vidro fosco”.
Pavimentação em mosaico.S. f. Padrão na TCAR em que se observam áreas de opacidade em vidro fosco com septos interlobulares espessados de permeio.
Perfusão em mosaico. S. f. Aparência em retalho de uma região com várias atenuações, interpretada como sendo secundária à diferença de perfusão regional. É termo mais adequado do que o originalmente descrito “oligoemia em mosaico”. Aprisionamento aéreo secundário a obstrução brônquica ou bronquiolar pode produzir zonas focais de atenuação diminuída, que podem se tornar mais evidentes com TC expiratória.
Pneumatocele. S. f. (Patol./radiol.) Espaço preenchido por gás com paredes finas dentro do pulmão, usualmente ocorrendo em associação com pneumonia aguda (mais comumente de origem estafilocócica) e invariavelmente transitória.
Pseudoplaca. S. f. Banda irregular, de opacidade pulmonar periférica, adjacente à pleura visceral, que simula o aspecto de placa pleural, mas é formada por pequenos nódulos coalescentes (ex.: pneumoconiose dos trabalhadores em minas de carvão).
Reticulação. S. f. Imagem formada por inúmeras linhas entrelaçadas, que sugere uma malha. Termo descritivo habitualmente associado com doenças pulmonares intersticiais. Pode ser fina, intermediária ou grossa. Sin.:padrão reticular.
Sinal da árvore em brotamento. S. m. Dilatação nodular de estruturas ramificadas centrolobulares, que lembram árvore em brotamento e que representam dilatação exsudativa bronquiolar (ex.: panbronquiolite ou disseminação endobrônquica de tuberculose pulmonar em atividade).
Sinal do anel de sinete. S. m. Opacidade areolar (usualmente representa um brônquio dilatado, com paredes espessas) em associação com opacidade pequena, arredondada, de tecidos moles (a artéria pulmonar adjacente ou raramente artéria brônquica dilatada), lembrando um “anel de sinete”. Usualmente este achado indica bronquiectasia, mas pode também ocorrer no carcinoma bronquioloalveolar multifocal e adenocarcinoma metastático.
Sinal do crescente aéreo. S. m. Ar com a forma de crescente em um nódulo ou massa, onde o ar separa a parede externa da lesão de uma área interna de seqüestro, que freqüentemente corresponde a uma bola fúngica de Aspergillus sp.
Sinal do halo. S. m. Opacidade em vidro fosco circundando um nódulo ou massa. Pode ser um sinal de aspergilose invasiva ou hemorragia por várias causas.
Sinal do septo em contas (do rosário).S. m. Espessamento septal irregular que lembra o aspecto de uma fileira de contas; é habitualmente um sinal de linfangite carcinomatosa, mas raramente pode ocorrer na sarcoidose. Como o aspecto do espessamento é habitualmente mais irregular do que “em contas”, o termo “espessamento septal irregular” é geralmente preferido.
Fonte: JHAM, B. C.; FREIRE, A. R. S. Complicações bucais da radioterapia em cabeça e pescoço. Rev Bras Otorrinolaringol 2006;72(5):704-8.
Anualmente, são diagnosticados no mundo cerca de 870 mil novos casos de tumores malignos das vias aerodigestivas superiores. As taxas de incidência destas neoplasias em países não-desenvolvidos são superadas somente pelas taxas do câncer do colo uterino. O tratamento de escolha para essas neoplasias é a cirurgia, associada ou não à radioterapia. Cirurgia e radioterapia são formas de tratamento para a doença localizada ou regional.
Muitos dos pacientes que apresentam câncer de cabeça e pescoço são submetidos a altas doses de radioterapia em extensos campos de radiação que irão incluir a cavidade bucal, maxila, mandíbula e glândulas salivares. A radioterapia, apesar de apresentar a vantagem de preservar a estrutura dos tecidos, acarreta em inúmeras reações adversas que se manifestam na cavidade bucal. Tendo em vista que as complicações bucais decorrentes da radioterapia resultam em alta morbidade e queda da qualidade de vida, o objetivo desta revisão é abordar os principais efeitos adversos bucais decorrentes da radioterapia.
Aspectos biológicos da radioterapia
Radioterapia é uma modalidade de tratamento para tumores malignos cujo agente terapêutico é a radiação ionizante, ou seja, aquela que promove ionização no meio onde incide, tornando-o eletricamente instável. As radiações ionizantes são divididas em corpusculares e eletromagnéticas. As radiações corpusculares são representadas pelos elétrons, prótons e nêutrons; as radiações eletromagnéticas são chamadas de fótons, sendo representadas pelos raios X e pelos raios gama. Na prática clínica, a maior parte dos tratamentos radioterápicos é feita através do uso de fótons.
As radiações ionizantes agem sobre o DNA nuclear levando à morte ou à perda da sua capacidade reprodutiva. Como o conteúdo de DNA duplica durante a mitose, células com alto grau de atividade mitótica são mais radiossensíveis do que aquelas com baixa taxa de mitose. A ação da radiação pode ser direta ou indireta. Na ação direta, a molécula de DNA é clivada, o que interfere no processo de duplicação. No efeito indireto, a água é dissociada em seus dois elementos, H+ e OH-, sendo que este último reage com as bases de DNA, interferindo no processo de duplicação. Como a água representa a maior parte do conteúdo celular, o efeito indireto é proporcionalmente mais importante que o direto.
Por estarem em contínuo processo de multiplicação, as células neoplásicas são passíveis de sofrerem os efeitos da radiação. Entretanto, a capacidade de multiplicação varia de acordo com o tipo celular. Desta forma, existe uma escala de radiossensibilidade tanto para células tumorais como para células normais. Neoplasias embrionárias e linfomas são tumores radiossensíveis, enquanto que carcinomas são moderadamente radiossensíveis.
Para expressar a quantidade de radiação absorvida pelos tecidos, foi proposta inicialmente uma unidade internacional, o rad (radiation absorbed dose), isto é, a diferença entre a radiação aplicada e a que atravessou os tecidos. Recentemente, esta unidade foi substituída pelo Gray, definido como 1 joule por quilograma. O Gray é abreviado como Gy, sendo que: 1 Gy = 100 cGy =100 rad.
A radioterapia pode ser realizada em esquemas de curta duração até esquemas extremamente protraídos, durante várias semanas. A justificativa das aplicações em pequenas frações diárias tem sua fundamentação nos “5 Rs” da radiobiologia: reoxigenação, redistribuição, recrutamento, repopulação e regeneração.6 A maioria dos pacientes submetidos à radioterapia recebe uma dose total de 50-70 Gy como dose curativa. Essas doses são fracionadas em um período de 5-7 semanas, uma vez ao dia, 5 dias por semana, com dose diária de aproximadamente 2 Gy. Nos tratamentos adjuvantes, 45 Gy são empregados no pré-operatório e 55-60 Gy no pós-operatório.
Complicações bucais da radioterapia
Reações adversas à radioterapia irão depender do volume e do local irradiados, da dose total, do fracionamento, da idade e condições clínicas do paciente e dos tratamentos associados. Uma pequena elevação na dose tumoral é suficiente para aumento expressivo na incidência de complicações. Reações agudas ocorrem durante o curso do tratamento e em geral são reversíveis. Complicações tardias são comumente irreversíveis, resultando em incapacidade permanente e em piora da qualidade de vida , e variam em intensidade, sendo, em geral, classificadas em leves, moderadas e graves.
Muitos dos pacientes que apresentam câncer de cabeça e pescoço são submetidos a altas doses de radioterapia em extensos campos de radiação que irão incluir a cavidade bucal, maxila, mandíbula e glândulas salivares. Desta forma, a terapia anticâncer está associada a diversas reações adversas. Essas reações podem ocorrer em uma fase aguda (durante ou nas semanas imediatas ao tratamento) ou em uma fase crônica (meses ou anos após a radioterapia). A gravidade das complicações bucais agudas irá depender do grau de inclusão dessas estruturas no campo de irradiação.
A mucosite é definida como uma irritação da mucosa.5 A mucosite induzida pela terapia antineoplásica é uma importante reação adversa, podendo interferir no curso da radioterapia e alterar o controle local do tumor e, conseqüentemente, a sobrevida do paciente.
Os pacientes irradiados têm maior tendência ao desenvolvimento de infecções bucais causadas por fungos e bactérias. Estudos têm demonstrado que pacientes que foram submetidos à radioterapia apresentam maior número de espécies microbianas, tais como Lactobacillus spp., Streptococcos aureus e Candida albicans. A candidose bucal é uma infecção comum em pacientes sob tratamento de neoplasias malignas das vias aero-digestivas superiores. A colonização da mucosa bucal pode ser encontrada em até 93% desses pacientes, enquanto que infecção por Candida pode ser vista em 17-29% dos indivíduos submetidos à radioterapia. O risco aumentado para a candidose bucal decorre provavelmente da queda do fluxo salivar conseqüente da radioterapia.
A disgeusia acomete os pacientes a partir da segunda ou terceira semana de radioterapia, podendo durar vá- rias semanas ou mesmo meses. Ela ocorre já que os botões gustativos são radiossensíveis, ocorrendo degeneração da arquitetura histológica normal dos mesmos. O aumento da viscosidade do fluxo salivar e a alteração bioquímica da saliva formam uma barreira mecânica de saliva que dificulta o contato físico entre a língua e os alimentos. A recuperação a níveis quase normais normalmente ocorre de 60 a 120 dias após o término da irradiação.
Mesmo indivíduos que já há algum tempo não apresentavam atividade cariosa podem desenvolver cáries de radiação ao serem submetidos à radioterapia. O principal fator para que tais lesões de desenvolvam é a diminuição da quantidade de saliva, bem como alterações qualitativas da mesma. Além disso, a radiação exerce um efeito direto sobre os dentes, tornando-os mais susceptíveis à descalcificação
A osteorradionecrose (ORN) é a necrose isquêmica do osso decorrente da radiação, sendo uma das mais sérias conseqüências da radioterapia, resultando em dor bem como possíveis perdas substanciais da estrutura óssea.5,28 Em decorrência da terapia anti-câncer, as células ósseas e a vascularização do tecido ósseo podem sofrer lesões irreversíveis. A ORN pode ocorrer de forma espontânea ou, mais comumente, após trauma (normalmente extrações dentárias). Em 95% dos casos a ORN está associada à necrose de tecido mole e exposição óssea subsequente.
Outra possível consequência da radioterapia é a necrose de tecido mole, que pode ser definida como uma úlcera localizada no tecido irradiado, sem presença de neoplasia residual. A incidência da necrose de tecido mole está relacionada com a dose, tempo e volume da glândula irradiada, sendo que o risco é maior quando a braquiterapia é usada. A necrose de tecido mole é uma condição normalmente dolorosa e boa higiene bucal, bem como o uso de analgésicos e muitas vezes de antibióticos são necessários para a resolução da condição.
A xerostomia, ou “boca seca”, pode ser decorrente de certas doenças ou ser uma reação adversa a alguns medicamentos. Entre os pacientes irradiados na região de cabeça e pescoço, é uma dais mais frequentes queixas. Chencharick e Mossman verificaram que 80% dos pacientes irradiados queixam-se de xerostomia. Entretanto, a relação entre a percepção individual de boca seca e os reais valores dos fluxos salivares ainda não foi totalmente definida. Em algumas situações, existe correlação entre fluxo salivar reduzido e queixa de xerostomia. Porém, em muitos casos não existe associação entre a xerostomia e os achados objetivos de disfunção das glândulas salivares – ou seja, pacientes sem alterações no fluxo salivar podem se queixar de secura na boca.
Conclusões
A radioterapia tem sido amplamente utilizada no tratamento das lesões malignas da cabeça e pescoço, com melhora da sobrevida dos pacientes. Entretanto, esta forma de terapêutica ainda está associada a diversas reações adversas, que afetam de forma significativa a qualidade de vida dos pacientes, podendo afetar inclusive o andamento do tratamento. Levando em conta que as taxas de incidência do câncer de cabeça e pescoço provavelmente vão se manter as mesmas das últimas décadas, é de suma importância que profissionais da área de saúde estejam familiarizados com as complicações que podem advir do tratamento antineoplásico. O tratamento multidisciplinar, incluindo a equipe médica, o cirurgião-dentista, o fonoaudiólogo, o nutricionista e o psicólogo é a melhor alternativa para minimizar ou mesmo prevenir tais complicações.
A Enfermagem vem apontando em pesquisas científicas visões e considerações sobre a profissão de maneira que lhe permita atualizar e construir um caminho profissional mais consistente.
O cuidado em edificar uma história para Enfermagem com mais coerência cientifica permite aos enfermeiros um crescimento intenso e apurado, capaz de alcançar um futuro mais atuante e decisivo.
Neste contexto, este artigo tem a finalidade de expor e refletir sobre uma nova proposta de estudo aplicada a Enfermagem, que envolve as (in)satisfações no trabalho dos integrantes da equipe de enfermagem, como ponto fundamental na realização e desenvolvimento de suas atividades. A retomada das necessidades humanas básicas é um instrumento essencial para compreender fatores que motivam essas atividades gerando (in)satisfação e bom desempenho desta equipe no trabalho.
No decorrer de nossas trajetórias profissionais pudemos perceber que a insatisfação da equipe de enfermagem no trabalho era marcante e visível. Desde então, começamos a questionar o motivo de tantas insatisfações e se havia comprometimento da assistência aos pacientes. Estava claro para nós que o cuidado prestado reside em cada um dos integrantes da equipe de enfermagem sendo influenciado através dos nossos desejos, necessidades e satisfações.
“Tudo que existe e vive precisa ser cuidado para continuar a existir e a viver”. Então, entendemos que as ações na Enfermagem estavam além das aparências e repousavam na sua essência. Os valores, fundamentos, sentimentos e ações dos integrantes da equipe refletiamse na prática. Assim, o ambiente passava a ser espelho das relações pessoais e sociais. “O ambiente é como um sistema biológico, social, político e econômico que se organiza, desorganiza-se e reorganiza-se”.
Neste ambiente as pessoas criam identidade própria, modos de viver e cuidar, no qual suas (in)satisfações estão totalmente implícitas no processo de vivência influenciando as relações existentes neste espaço. Diante destes questionamentos, a (in)satisfação dos integrantes da equipe de enfermagem apresenta uma relação com a interação necessária à realização do cuidado podendo comprometer a assistência que será prestada.
A satisfação é “ação ou efeito de realizar-se; prazer, contentamento; corresponder às expectativas, corresponder ao que se deseja”. Em psicologia, “satisfação é o resultado de uma variedade de atitudes da pessoa perante fatores associados ao seu trabalho e atitude no trabalho designa o sentimento que o empregado experimenta a propósito do seu emprego”.
Poucas propostas relativas aos integrantes da equipe de enfermagem e sua influência sobre o cuidado são discutidas no sentido de abordar suas (in)satisfação e estresse dentro do trabalho, salvo a proposta que envolve o saber – fazer da enfermagem. Sendo assim, o nível de satisfação profissional vem tornando-se fator essencial, determinante e discutível para melhor entendimento do cuidado. O cuidar deve ser entendido como a realização de ações na enfermagem considerando-se inevitável à satisfação de um conjunto de necessidades tanto da clientela, como dos integrantes da equipe de enfermagem que executam este cuidado envolvendo mais interação e autonomia. Para tal, esta reflexão propõe uma discussão acerca da teoria da motivação humana ou hierarquia das necessidades humanas básicas de Abraham Maslow correlacionandoa com as ações dentro da Enfermagem. Nessa hierarquia os indivíduos estão em processo contínuo de desenvolvimento tendendo a transitar por entre as necessidades e em busca da auto-realização.
A TEORIA DAS NECESSIDADES HUMANAS BÁSICAS
Ao atingirem as necessidades fisiológicas, de segurança, sociais, de estima e auto-realização os seres humanos atingem também a satisfação necessária para desempenharem melhor as suas atividades. Maslow é um psicólogo e pesquisador do comportamento humano bastante conhecido na Enfermagem, pois Wanda Horta, em seus estudos como enfermeira pioneira no Brasil adaptou a teoria das necessidades humanas básicas para a Enfermagem, aplicando as idéias de Maslow ao processo de cuidar. Nesta abordagem da teoria aplicada a profissão, a enfermeira é o agente responsável que realiza o processo de planejamento para cuidar das necessidades básicas do cliente, estabelecendo uma ação direta e atuante da Enfermagem diante dos problemas apresentados por ele. Com esta adaptação, Wanda Horta trouxe para a Enfermagem a observação, interação e intervenção junto ao cliente para satisfazer suas necessidades humanas básicas.
Por outro lado, Maslow concebeu a teoria da motivação humana baseada na hierarquia das necessidades humanas básicas. Esta teoria parte do princípio de que todo ser humano tem necessidades comuns que motivam seu comportamento no sentido de satisfazê-las, associandoas a uma hierarquia. O ser humano, como está sempre buscando satisfação, quando experimenta alguma satisfação em um dado nível, logo se desloca para o próximo e assim sucessivamente. Na sua teoria Maslow classifica, hierarquicamente, as necessidades em cinco níveis, a saber:
Necessidades básicas ou fisiológicas: aquelas diretamente relacionadas à existência e a sobrevivência do ser humano, estando neste grupo as necessidades de alimento, água, vestuário, sexo e saneamento. Para Maslow, as necessidades fisiológicas são o ponto de partida para a teoria, pois elas são primordiais. As necessidades fisiológicas se referem às necessidades biológicas do indivíduo. São as mais prementes, dominando a direção do comportamento do ser humano quando esta se encontra insatisfeito. Assim, uma pessoa dominada por tal necessidade tende a perceber apenas os estímulos que visam satisfazê-las, sua visão de futuro fica limitada e determinada por tal necessidade.
Necessidades de segurança: estão nesse grupo as necessidades relacionadas à proteção individual contra perigos e ameaças como, por exemplo, a necessidade de saúde, trabalho, seguro, previdência social e ordem social. Maslow ressalta que a necessidade de segurança permite o indivíduo dar preferência pelas coisas familiares, tender por uma religião ou filosofia de vida e pelas rotinas do dia a dia. Porém, a necessidade de segurança só pode ser considerada um motivador ativo e dominante caso encontre-se em momentos de urgência. Sobre este pensamento: “as necessidades de segurança têm grande importância, de vez que na vida organizacional as pessoas tem uma relação de dependência com a organização e onde as ações gerenciais arbitrárias ou as decisões inconsistentes e incoerentes podem provocar incerteza ou insegurança nas pessoas quanto a sua permanência no trabalho”.
Necessidades sociais: relacionadas à vida em sociedade, englobando necessidades de convívio, amizade, respeito amor, lazer e participação. Estas são as necessidades de convívio social referindo as necessidades de afeto das pessoas que convivemos tais como; amigos, noiva, esposa e filhos. O ser humano tenderá a construir relacionamentos afetivos com o intuito de se sentir integrado, parte de um grupo em sociedade. Assim, “quando as necessidades sociais não estão suficientemente satisfeitas, a pessoa se torna resistente, antagônica e hostil com relação às pessoas que a cercam. A frustração dessas necessidades conduz geralmente a falta de adaptação social e a solidão. A necessidade de dar e receber afeto é uma importante ativadora do comportamento humano quando se utiliza a administração participativa”.
Necessidades do ego (estima): guardam relação com a autosatisfação, caracterizando-se como necessidades de independência, apreciação, dignidade, reconhecimento, igualdade subjetiva, respeito e oportunidades. Elas expressam as necessidades ou desejos das pessoas de alcançarem uma auto-avaliação estável, bem como uma auto-estima firmemente baseada em sua personalidade. A satisfação destas necessidades conduz a sentimentos de autoconfiança, valor, força, capacidade, suficiência e utilidade ao mundo. “Pero la frustración de estas necesidades, produce sentimientos de inferioridad, debilidad o impotencia, puede conseguirse fácilmente un estímulo de la neurosis traumática grave”.
Necessidades de auto-realização: expressam o mais alto nível das necessidades estando diretamente relacionadas à realização integral do indivíduo. Neste grupo estão as necessidades de utilização plena das potencialidades, de capacidade e da existência de ideologias. São necessidades de crescimento revelando uma tendência de todo ser humano para realizar plenamente o seu potencial. Essa tendência pode ser expressa como o desejo de a pessoa tornar-se sempre mais do que é e de vir a ser tudo o que pode ser. Neste sentido: “Un músico tiene que hacer música, un artista tiene que pintar, un poeta tiene que escribir, si quieren estar en paz con sus respectivas personalidades. Un hombre tiene que ser lo que puede ser”.
A necessidade de auto-realização não se extingue pelo pleno ato de saciar. Quanto maior for a satisfação experimentada, tanto maior e mais importante parecerá à necessidade. O surgimento claro desta necessidade descansa na satisfação anterior das necessidades fisiológicas, de segurança, de amor e estima.
Além das cinco necessidades citadas, acrescentou-se à teoria, o desejo de todo ser humano de saber e conhecer. Há assim, uma necessidade natural do ser humano de buscar o sentido das coisas, de forma a organizar o mundo em que vive. São as necessidades denominadas cognitivas, que incluem os desejos de saber, de compreender, sistematizar, organizar, analisar e procurar relações e sentidos. Estas necessidades viriam antes da auto-realização. A necessidade de ajudar os outros a se desenvolverem e a realizarem seu potencial foi denominada como transcendente e viria posteriormente à auto-realização.
Existem certas pré-condições para que as necessidades básicas possam ser satisfeitas e sem essas precondições seria impossível a satisfação das necessidades. São elas: liberdade de falar, liberdade de expressão, liberdade para investigar e buscar informação, liberdade para se defender e buscar justiça, equidade, honestidade e permanência garantida dentro do grupo. “Al frustrarse estas libertades, el individuo reaccionará con una respuesta de amenaza o emergencia” .
Nesta teoria, a hierarquia entre as necessidades está ligada às características do ser humano, independente do sistema de produção. Este sistema precisa satisfazê-las, sob pena de criar/ampliar a pressão por parte dos sujeitos envolvidos. Para Maslow, o comportamento é motivado por necessidades a que ele deu o nome de necessidades fundamentais.
As necessidades fundamentais podem ser classificadas em necessidades superiores e necessidades inferiores que se orientam sob a base do principio de potencia relativa. “Las necesidades básicas se ordenan por si mismas en una jerarquía perfectamente definitiva, sobre la base del principio de potencia relativa”. Podemos então descrever que as necessidades inferiores dependem de condições internas do próprio indivíduo, por isto estão muito mais localizadas, são instintivas, animais, perceptíveis, mais numerosas, fáceis de serem medidas (tangíveis) e mais limitadas que as superiores.
As necessidades superiores requerem condições externas favoráveis que estejam mais acessíveis à satisfação. São menos numerosas, por isto menos perceptíveis, menos controláveis, desenvolvem conseqüências cívicas e sociais importantes e produzem melhores resultados subjetivos tendo como exemplo, a felicidade, serenidade e riqueza da vida interna. Quando estas necessidades estão satisfeitas significa que o indivíduo alcançou maior eficiência biológica, maior longevidade, menos enfermidades. Sendo assim, elas são mais humanas e refletem a auto-realização. Sobre estas afirmações: “Usualmente, dan mayor importancia a la necesidad superior que a la inferior aquellos que han satisfecho las dos. Aquellos que han conocido ambas consideran el autorrespeto más importante, subjetivamente, que un estómago lleno. Tales personas podrán sacrificarse más fácilmente por contentar apetitos superiores y estarán fácilmente dispuestas a resistir la privación inferior”.
O intuito em satisfazer as necessidades básicas está também associado a uma série ascendente de níveis de saúde psicológica. Um homem que ganha respeito e admiração dos que estão a sua volta, podendo desenvolver sua auto-estima, favorece progressivamente o próprio equilíbrio psicológico. “Tal hipótesis nos lleva a estudiar hechos antes descuidados y plantear de nuevo muchas cuestiones antiguas que no han sido contestadas”.
Assim foram levantados os seguintes pressupostos da Teoria das Necessidades Humanas Básicas:
O princípio mais importante da vida motivacional é a organização das necessidades em uma hierarquia de prioridade ou potencial;
O comportamento humano está determinado pelas necessidades básicas e conseqüentemente motivado por elas;
Existem pré-condições para que as necessidades sejam satisfeitas;
Quando parcialmente ou satisfeita uma necessidade aparece outra do tipo superior;
As necessidades inferiores são mais internas, estimuladas por questões do próprio indivíduo; e as necessidades superiores são mais externas, estimuladas por questões de fora do indivíduo;
Quando o indivíduo atinge parcialmente suas necessidades, atinge também uma série ascendente de graus de saúde psicológica e satisfação;
Um individuo insatisfeito é um homem enfermo (doente);
A não satisfação das necessidades básicas, com o tempo pode significar o surgimento de patologias graves;
A insatisfação das necessidades leva o individuo a não desenvolver o máximo de suas potencialidades.
Esta teoria não é a única que explica o comportamento humano, pois nem todo comportamento é determinado pelas necessidades. As necessidades fundamentais são em grande parte inconscientes e por outro lado, os fatores sócio-culturais também influenciam na forma ou objetos, nos quais os homens buscam satisfazer suas necessidades.
A TEORIA DA MOTIVAÇÃO HUMANA E A ENFERMAGEM
Considerando-se o conteúdo exposto, é preciso reavaliar constantemente esse conhecimento, essa prática pela diversidade e essa singularidade do sujeito que cuida, durante as suas atividades. A prática em algumas instituições de saúde tem mostrado que as insatisfações que afetam seus funcionários afetam também o processo de seu desenvolvimento no trabalho e devem ser levadas à reflexão, possibilitando ações coletivas para minimizar ou resolver tais problemas.
A Enfermagem é uma profissão a serviço do ser humano e da dinâmica que envolve quem cuida e quem é cuidado (seus clientes). O cuidado é, antes de tudo, um exercício dos seres humanos e uma arte de observar, saber e fazer. Por isto, não se trata de uma ação técnica a ser estudada e desenvolvida, tal como uma função braçal. Na profissão estão implícitas as relações humanas e as implicações que definem sua prática e tudo a sua volta. Jamais analisar-se-á a Enfermagem, sem antes reconhecer que dela nasce um universo humano extraordinário, revelador e original. A respeito desta afirmativa:
A Enfermagem é uma atividade de cuidado aos seres humanos e, como processo de trabalho, tem um objetivo e uma direção. Tem uma finalidade de trabalho que ao ser caracterizado define a tendência da sua ação. Tais afirmações significam que a prática da Enfermagem revela mais do que apenas um fazer técnico, revela a origem e consequência desse fazer.
Diante dessas argumentações fica fácil compreender porque a Enfermagem traz em si um movimento humano, pois ela é uma ciência em construção capaz de gerar relações e reações humanas. Partindo desta afirmativa, podemos utilizar a retomada das necessidades humanas básicas, como uma abordagem capaz de identificar as necessidades da equipe de enfermagem, suas (in)satisfações no trabalho.
A Enfermagem sempre foi uma profissão que concebeu seres humanos cuidando de outros seres humanos, que interagem reagindo a cada (des)encontro e demonstrando (in)satisfações. Ao contato entre quem cuida e quem é cuidado, que se materializa com a realização do cuidado de enfermagem oferecido, aparecem as conseqüências de um desempenho de trabalho excelente ou frustrado.
A interação entre a teoria da motivação humana de Maslow e algumas características da prática da enfermagem leva a perceber que as necessidades humanas podem influenciar o desenvolvimento das atividades da equipe de enfermagem no trabalho. Portanto, a teoria pode ser utilizada tanto para fundamentar esta pesquisa, quanto a outras pesquisas de enfermagem que busquem compreender o comportamento dos indivíduos no trabalho.
Aumentou o número de empresas conveniadas e/ou parceiras do CENIB que incluem benefícios em forma de descontos em todos os cursos para os seus funcionários, dependentes e cônjuges, e também para seus trabalhadores terceirizados. Com as devidas comprovações legais e atualizadas os funcionários e/ou servidores terão até 20% de desconto (para o curso Técnico em Radiologia), e até 15% para os demais cursos até as datas dos vencimentos promocionais. Veja as instituições abaixo: