Fonte: http://conter.gov.br
Na década de 30, quando a tuberculose matava por falta de diagnóstico, especialista brasileiro desenvolve exame de imagem para detectar a doença nas fases iniciais
Dos anos 1920 aos 50, a Radiologia entrou em uma nova fase de desenvolvimento no Brasil. Depois de os primeiros médicos e pesquisadores que se especializaram na Europa voltarem ao país, trazendo equipamentos radiológicos da época, teve início um intenso processo de aprendizagem e disseminação da tecnologia.
Encantados com a possibilidade de enxergar os pacientes por dentro, médicos do interior de todas as regiões do país passaram a adquirir essas máquinas de raios X, para aparelhar seus estabelecimentos de saúde. Foi uma verdadeira febre radiológica.
Como os donos dos consultórios não dominavam a tecnologia, mandavam funcionários, filhos ou sobrinhos para aprender a operar o equipamento na capital, aqueles trazidos pelos precursores. Esses moços saíam de suas cidades sem profissão, e voltavam como Operadores de raios X diplomados.
“Meu tio era médico, comprou um equipamento de raios X e me mandou para estudar a nova tecnologia. Aprendi a profissão e voltei para ensinar a ele. Depois disso, participei da formação de muitos outros médicos, com quem também aprendi muito. Nós absorvemos a ciência e ajudamos a retroalimentar a cadeia do conhecimento. Nossa classe desempenha um papel muito importante na história dessa ciência”, conta Jenner Moraes, o primeiro presidente do CONTER.
Essa é a história de centenas de profissionais das técnicas radiológicas. No Hospital das Clínicas de São Paulo, não há uma pessoa sequer que não conheça Aristides Negretti, aluno da primeira turma de técnicos em Radiologia do Brasil, considerado pelos especialistas que administram o hospital hoje como um mestre além de seu tempo.
Hoje em dia, como sempre, os profissionais das técnicas radiológicas ensinam e aprendem, sempre no intuito de levar ao próximo o benefício de um dos maiores conhecimentos que a humanidade teve o prazer de teorizar: os raios X.
Em vários momentos, o Brasil se torna protagonista da história da Radiologia. No ano de 1936, o médico Manuel Dias de Abreu (1894-1962) ganhou destaque internacional ao propor um método rápido e barato de realizar exames do tórax, o que facilitou bastante o tratamento de doenças pulmonares.
Abreu batizou a técnica de Rontgenfluorografia (fotografia de raios X), em homenagem a Wilhelm Conrad Röntgen. Entretanto, em 1939, no I Congresso Nacional de Tuberculose no Rio de Janeiro, foi popularizado o termo “Abreugrafia”, em homenagem a esse importante pioneiro.
Bem, naquela época, o diagnóstico da tuberculose em estágio avançado estava vitimando as pessoas e despertou em Manoel de Abreu o interesse de estudar a doença em estado inicial, para ver se reduzia o índice de mortes.
Mas, isso só seria possível se houvesse uma drástica redução no custo do exame. Na década de 30, com a invenção do Écran de Tungstato de Cálcio, as condições se tornaram viáveis.
A Abreugrafia era um exame que consistia em fotografar a tela de uma radiografia de tórax, em filmes de 35 ou 70 mm. O custo do diagnóstico caiu, uma vez que o filme fotográfico era mais barato que as tradicionais chapas radiográficas da época.
Um ano após conseguir bolar a ideia, Abreu construiu o primeiro aparelho para realização de exames torácicos na “Casa Lohner” (RJ). A máquina foi produzida pela filial da Siemens, uma das primeiras empresas do mundo a desenvolver e investir em equipamentos de raios X. Na mesma ocasião, foi inaugurado o primeiro serviço de cadastro torácico, em 1937.
O inventor da Abreugrafia se formou na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro (1913). Depois, resolveu aperfeiçoar seus conhecimentos na Europa, onde passou por diversos hospitais franceses chegando, inclusive, a dirigir o Serviço de Radiologia da Santa Casa de Paris (1916).
Por sua contribuição à Medicina, Manuel Dias de Abreu foi indicado ao Prêmio Nobel de Fisiologia/Medicina, em 1946. Em 30 de janeiro 1962, veio a falecer, vítima de câncer no pulmão. Em homenagem ao médico, em 4 de janeiro, se comemora o Dia da Abreugrafia.
Por conta da evolução tecnológica, das taxas de dose empregadas e as limitações da técnica, a Abreugrafia acabou caindo em desuso há várias décadas.